“Turmoil”, em inglês, significa “estado de grande ansiedade, confusão e incerteza, segundo o dicionário Oxford. A palavra é normalmente utilizada pelas imprensas americana e britânica para se referir a situações políticas em países convulsionados por revoltas, golpes de Estado e catástrofes sociais. Pois foi essa a cartola (expressão usada no jornalismo para resumir um tema das reportagens) que alguns jornais globais adotam para se referir ao Brasil atual.
É com espanto que o mundo olha para o país, que troca sua principal autoridade na área da Saúde em meio à maior pandemia em um século, como clubes de futebol mudam de técnico. Enquanto governos, médicos, cientistas e economistas se debruçam em estudos para encontrar maneiras de conter o avanço do coronavírus, buscam tratamento adequado às vítimas, experimentam vacinas para nos livrar deste mal e imaginam fórmulas para minimizar o impacto econômico, que será brutal, o Brasil mergulha em uma crise dentro da crise.
Na Europa, redações que testemunharam a devastação da covid-19 usam como régua para medir a gravidade da situação brasileira as estatísticas de seus próprios países: vários jornais destacaram que o Brasil já ultrapassa França e Alemanha em número de casos.
Não é a primeira vez que a imprensa internacional olha com estranheza para o que está ocorrendo do lado de cá do Atlântico. Já foi assim na saída dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro. Mas agora chama ainda mais a atenção porque, além da brevidade de Teich no cargo, a curva epidêmica no gigante sul-americano está em franca ascensão.
Paraguai, Argentina e Uruguai, que fizeram o tema de casa e conseguiram até agora estancar a doença, transformaram a preocupação com o vizinho em medidas sanitárias concretas para evitar o transbordo do vírus – alguns inclusive cavando fossas para evitar a passagem de carros, como ocorreu em Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã (MS). Até Donald Trump, a quem Jair Bolsonaro tem como exemplo, recuou do estado de negação da gravidade da pandemia e já relativiza, sem a obsessão do brasileiro, o uso da cloroquina no tratamento. O presidente está só entre os líderes mundiais – ou, no mínimo, ao lado de párias internacionais, como Kim Jong-un, onde o governo diz que não há casos, o presidente do Turcomenistão, que proibiu o uso da palavra “coronavírus” e o esquerdista Daniel Ortega, cujo país segue enchendo estádios de futebol como se nada tivesse ocorrendo.
Assim, o Brasil caminha a passos largos rumo ao isolamento global.