Uma amostra de como o coronavírus é traiçoeiro: até semanas atrás, o Chile era modelo de contenção da doença na América do Sul.
No final de abril, o número de novas infecções em 24 horas não chegava a 500. O governo respondeu de forma rápida à chegada da pandemia, mas, ao imaginar que a crise estava controlada, implantou um processo chamado retorno seguro - que não foi tão segura assim. Hoje, o Chile vive seu pior momento, com 5 mil novos casos em 24 horas. Na quinta-feira, registrou novo recorde de mortos no período - 49. O que pode ter ocorrido.
- A região metropolitana de Santiago é densamente povoada. A cidade concentra 80% dos casos, mesmo tendo apenas 40% da população.
- O uso do transporte público, em especial do metrô, que favorece aglomerações.
- Há longas filas nos escritórios responsáveis por administrar o auxílio do governo à população, com pessoas que buscam o seguro-desemprego, favorecendo a aglomeração e o contato.
- A forma de organização da capital, dividida em comunas com administrações autônomas. Cada uma implantou um tipo diferente de reabertura. Mas com a regionalização dentro de uma mesma cidade tornou-se impossível controlar quem se deslocava de uma comuna com alto índice de infectados para uma com menor percentual. Assim, quem vive em áreas com mais restrições circula por regiões com menos restrição. O vírus não obedece fronteiras ou divisões.
Em razão do aumento dos casos, o governo precisou impor lockdown na capital (fechamento obrigatório) e suspender a medida do passaporte de imunidade, uma das primeiras políticas adotadas no processo de reabertura do país.