Com ligeiras nuances, também nos Estados Unidos Donald Trump tentou interferir no FBI, o equivalente americano à Polícia Federal (PF), provocando uma crise doméstica que, por pouco, não levou à abertura de um processo de impeachment - o presidente acabou respondendo a julgamento político (e se livrando) por outro caso, uma suposta troca de favores com a Ucrânia.
Trump agiu no FBI por medo que uma investigação chegasse a sua família - assim, como inquéritos contra a família Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) precipitaram a troca no comando da PF, como explicou o repórter Humberto Trezzi. O caso remonta a julho de 2016, quando o FBI, que em território americano responde ao Departamento de Justiça (também equivalente ao Ministério da Justiça e Segurança, até esta sexta-feira, 24, liderado por Sergio Moro), começou a investigar a suposta tentativa da Rússia de interferir na eleição, que ocorreria em novembro daquele ano. Eleito e empossado, Trump passou a atuar para tentar ter acesso às informações sigilosas.
Com Trump na Casa Branca, o diretor do FBI James Comey, que liderava a investigação sobre o Russiagate, durou apenas cinco meses no cargo e foi demitido por ordem do presidente. Na carta de demissão enviada a Comey, Trump afirmou: "Embora eu aprecie enormemente você me informar, em três ocasiões diferentes, que eu não estou sob investigação, concordo com o julgamento, porém, do Departamento de Justiça de que você não está apto a efetivamente liderar o FBI". Segundo The New York Times, Comey sobe que tinha sido demitido enquanto falava a funcionários do escritório de Los Angeles, quando telas de TV ao fundo começara a mostrar a notícia.
Em março, ele admitiu pela primeira vez que o FBI investigava a interferência russa a favor de Trump e que a apuração incluía analisar a natureza dos laços entre indivíduos associados à campanha de Trump e o governo russo e se houve alguma coordenação entre a campanha e os esforços da Rússia.
Democratas acusaram Trump de agir por motivos políticos. Com a saída de Comey, o caso passou a um promotor especial, Robert Mueller, ex-diretor do FBI, que, em seu relatório final, em março de 2019, escreveu que "as tentativas de Trump para influenciar a investigação foram mal sucedidas principalmente porque as pessoas em volta do presidente se recusaram a cumprir as ordens de ele". E completou: "esse relatório não conclui que o presidente cometeu um crime, mas também não o inocenta".