Passada a semana até agora mais tenebrosa da história recente dos Estados Unidos, em que até 4,7 mil pessoas perderam a vida em 48 horas (nos dias 16 e 17 de abril) por causa da covid-19, a queda de braço da vez entre o presidente Donald Trump e governadores, em especial os democratas, gira em torno de quem é a responsabilidade por ampliar o número de testes para detecção do coronavírus. Mirando no exemplo da Alemanha, que realizou exames em massa na população - e graças em parte a essa decisão, nesta segunda-feira (20), começou a reabrir o comércio - vários países têm apostado na detecção por meio de exames como a forma mais rápida, controlada e responsável de diminuir a propagação da doença e retomar a vida econômica.
Com menor ênfase do que o presidente Jair Bolsonaro, Trump também tem pressionado governadores pela redução das medidas restritivas nos Estados. Desde a semana passada, ele estabeleceu como recomendação um registro estadual de 14 dias de recuo no número de infecções como requisito para a suspensão gradual das restrições. Nos últimos dias, elevou a carga: tem insuflado a população por meio do Twitter a população a se revoltar contra governadores que mantêm as medidas mais duras. Em um dos tuítes chegou a afirmar: “LIBERTEM Michigan, Minnesota e Virgínia”. Esses três Estados são governados por políticos democratas.
Nos Estados Unidos, governadores, que já entraram em confronto verbal várias vezes com Trump, agora pedem que a Casa Branca amplie a capacidade de fazer testes na população. Por seu lado, o governo americano afirma que cada Estado tem autonomia suficiente e estrutura para testar a população, inclusive produzindo os próprios kits de análises.
O governador da Virgínia, Ralph Northam, declarou que os laboratórios locais até teriam condições de produzir parte dos testes necessários, mas faltam reagentes químicos para que isso seja feito.
- É como se os Estados estivessem obrigados a lutar uma guerra sem as armas - comparou.
Em Michigan, a governadora Gretchen Whitmer, disse que se tivesse os equipamentos necessários poderia triplicar o número de testes. Mas também faltam insumos.
Epicentro da crise, Nova York provavelmente vai demorar mais para reabrir. Nesta segunda-feira (20), o governador Andrew Cuomo suspendeu todos os eventos públicos para o mês de junho. O prefeito Bill de Blasio disse que a cidade precisa realizar centenas de milhares de exames por dia e ver as hospitalizações diminuírem mais antes de reativar a economia.
- Poderíamos chegar lá, mas não conseguimos fazê-lo sem exames abrangentes, e até agora o governo federal ainda não conseguiu arranjar isso - disse ao programa Morning Joe, da MSNBC.
A resposta de Trump aos apelos dos governadores tem sido escorregadia. E, agora, ele usa a reivindicação feita semanas atrás pelos líderes locais por autonomia para definir sobre o fechamento do comércio e as restrições ao deslocamento, para jogar no colo deles a responsabilidade sobre os testes:
- Vocês devem lembrar que os governadores queriam ter controle total sobre a abertura dos Estados, mas agora querem que nós, o governo federal, façamos os testes. E, mais uma vez, testar é (algo) feito localmente, não dá para fazer das duas formas. Testar é uma coisa local. É muito importante, é ótimo, mas é uma coisa local.