O maior risco à saúde pública neste momento na Ásia - e daqui a alguns dias na Europa - é a sensação de que “o pior já passou”. Ato contínuo seria governos e população baixarem a guarda, com rápidos retornos à normalidade que levariam a uma segunda onda da pandemia.
Há indícios de que ela já pode estar começando em países como Singapura e Coreia do Sul, ironicamente duas nações que se tornaram exemplos mundiais em contenção da doença no primeiro momento da infecção.
Nessa provável e temida segunda onda, chama atenção o papel perigoso exercido por pessoas assintomáticas, ou seja pacientes que carregam o vírus no organismo, mas que não apresentam sintomas da doença. Estudos em Singapura, pequena cidade-Estado da Ásia e entreposto comercial entre Ocidente e Oriente, mostram que esses casos são mais comuns do que se pensava inicialmente e podem potencializar as infecções - sem que se descubra até que sejam testados.
Com o tempo, os pesquisadores passam a conhecer melhor o Sars-Cov-2, nome científico do coronavírus. E a preocupação, que se concentrava apenas em quem apresenta sintomas do vírus, estende-se agora também aos pacientes "silenciosos".
Um dos agravantes, segundo pesquisadores, é que a covid-19, em geral, manifesta-se com sintomas leves, muito parecidos com os de uma gripe comum. Isso faz com que os indivíduos minimizem a gravidade da doença e mantenham suas rotinas, sem perceber que são bombas de infecção ambulantes.
- Qualquer um de nós pode estar infectado e, se não tomarmos cuidado, podemos servir como transmissores do vírus a outras pessoas. Quando isso ocorre, os que estão em maior risco são as pessoas próximas a nós, como familiares, colegas e amigos - disse ao jornal The Straits Times o professor Leo Yep Sin, diretor do Centro Nacional de Doenças Infeccionas de Singapura.
Pesquisas nos Estados Unidos, na China e na Itália mostram que entre 50% e 70% das pessoas com covid-19 são assintomáticas ou têm sintomas leves da doença. Sem saber, esses pacientes podem infectar outras pessoas por um período de até quatro semanas. Como não apresentam evidências explícitas da doen~ca, escapam à detecção em nações que não estão conseguindo realizar testes em massa, como o Brasil.
Em Singapura e na Coreia do Sul, nações que conseguiram estancar o vírus, a realização de exames em toda a população foi uma das estratégias adotadas na primeira onda na luta contra o vírus.
Preocupada com o risco de uma segunda onda e diante do fantasma dos assintomáticos, desde o dia 1 de abril, a China, epicentro inicial da covid-19, passou a publicar dados diários sobre o número de novos casos de coronavírus de pessoas que não apresentaram indícios da doença. A estatística é preocupante: 78% das novas infecções diárias são assintomáticas.
Durante o momento mais grave da infecção, a China considerou que os casos assintomáticos seriam de baixo risco e não deveriam ser incluídos na contagem dos pacientes confirmados para covid-19. Esses registros foram geralmente encontrados ao acompanhar os contatos que tinham sido estabelecidos com outros casos confirmados. Também esses pacientes ficavam de quarentena se testassem positivo, mas podiam voltar a sair à rua ao fim desse tempo caso não apresentassem sintomas. Agora, no momento em que o bloqueio termina em metrópoles como Wuhan, a população teme que haja uma segunda onda de infecções impulsionadas por esses pacientes silenciosos.