Os olhos do planeta estarão voltados nesta segunda-feira (13) para a Espanha, país europeu que começa, ainda que lentamente e sob duras regras, uma reabertura gradual de setores da construção civil e industrial, além de outras atividades em que o teletrabalho não é possível.
Não há certezas sobre o impacto da medida anunciada pelo governo de Pedro Sánchez - e muitos políticos da oposição, em especial do Partido Popular (PP), têm criticado a retomada do funcionamento de áreas que não foram consideradas essenciais no decreto de paralisação econômica aprovado em 29 de março. O medo é de uma segunda onda do coronavírus. Até agora, na Espanha, a pandemia matou 16,9 mil pessoas (é a terceira nação com maior número de óbitos no mundo, atrás de Estados Unidos e Itália). O leve aumento do registro de mortes nas últimas 24 horas reforça o argumento de que seria muito cedo para retomar a economia. Os números ainda são ruins: 619 mortos entre sábado (11) e domingo (12).
Em meio às incertezas, Sánchez, do Partido Socialista, reiterou neste domingo (12) que o fim do que os espanhóis chamam de “hibernação econômica” não significa o encerramento da reclusão dos cidadãos, que segue na melhor das hipóteses até o dia 26. Ou seja, lojas não essenciais e escritórios continuarão fechados.
Mas o clima é de tensão nas ruas das maiores metrópoles espanholas, como Madri e Barcelona. Como ir trabalhar e ficar lado a lado de colegas nas fábricas? Como ficar dentro do metrô e do ônibus em contato com outros passageiros? Haverá EPIs para todos os funcionários nas empresas? São dúvidas que passam pela cabeça dos espanhóis nestas últimas horas.
Para tentar controlar o contágio com a volta parcial à atividade o governo vai distribuir 10 milhões de máscaras de proteção nas estações de metrô e trem. Um manual de 13 páginas foi distribuído à população com regras bastante duras sobre como se comportar a caminho do trabalho, as medidas que devem ser adotadas durante o expediente e, depois, ao voltar para casa.
A questão se tornou uma batalha entre o governo e alguns presidentes das comunidades locais (espécie de governadores), que defendem a continuidade do lockdown. Muitos estão dizendo que o governo central está baixando a guarda. O presidente de Castilla e León, Alfonso Fernández Mañueco, por exemplo, exigiu garantias para que não haja retrocesso na luta contra o coronavírus.
- O senhor está em condições de garantir a segurança dos trabalhadores? Considera suficiente o planejamento - questionou ele, durante uma tensa videoconferência, dirigindo-se a Sánchez.
O primeiro-ministro tem pedido a desescalada da tensão política.
Até agora, a Espanha tem tido um dos mais rigorosos confinamentos da Europa. As pessoas só podem sair de casa para trabalhar se não puderem fazê-lo de suas casas, comprar comida ou remédios e passear com o cachorro, mas não podem, como em outros países, fazer exercícios ou caminhar.
O case espanhol vai servir de laboratório até para o Brasil, nação com maior número de casos na América Latina, mas cujo pico ainda não foi atingido, segundo médicos. Na Espanha, antes de se celebrar qualquer resultado, nos próximos dias será fundamental acompanhar a evolução da transmissão e a capacidade de atendimento dos hospitais. Os resultados da flexibilização que começa nesta segunda-feira só saberemos daqui a duas semanas.
O que diz o manual
A caminho do trabalho, os espanhóis devem manter a distância mínima de 2 metros em relação a outra pessoa. Ao invés de usar transporte público, são recomendadas opções como motocicleta, bicicleta ou caminhada. Sobre o uso do próprio carro, a orientação é redobrar os cuidados com a limpeza, principalmente em áreas onde há contato, como maçanetas, volante e alavanca de câmbio.
No caso de ônibus ou metrô, "apenas uma pessoa deve viajar em cada fila de assentos, mantendo a maior distância possível entre os ocupantes", além da obrigatoriedade do uso de máscara.
Ao chegar e sair do trabalho, a distância 2 metros deve continuar sendo observada. O mesmo vale para a execução das tarefas. "Em particular, a área do vestiário deve garantir que a distância interpessoal possa ser mantida e armários individuais estejam disponíveis para guardar roupas.
No caso de empresas que atendem ao público, medidas deverão ser implementadas para minimizar o contato entre trabalhadores e clientes. Assim, a permanência do público nos locais deve ser somente a "estritamente necessária".
O pagamento online ou por cartão será incentivado e facilitado. Recomenda-se o uso de elementos físicos que garantam a proteção das pessoas. "A empresa deve fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) quando os riscos não podem ser evitados ou não podem ser suficientemente limitados por meios técnicos de proteção coletiva ou por medidas ou procedimentos para organizar o trabalho."
Também há pedido claro para que as empresas escalonem os horários o máximo possível para evitar multidões de pessoas no transporte público, bem como na entrada e saída dos prédios. "Recomenda-se suspender o ponto por impressão digital, substituindo-o por qualquer outro sistema."
As empresas, independentemente do tamanho, devem sinalizar claramente seus serviços médicos, que deverão estar a postos para intervir durante todo o período de funcionamento. A temperatura deve ser mantida entre 23ºC e 26ºC. Medidas de higienização devem ser regulares.
Para roupas de trabalho, o guia recomenda que, "quando terminar, coloque-as em sacos, feche-as e leve-as para lavagem, que deve ser feita com água quente. "Recomenda-se a temperatura entre 60ºC e 90ºC", diz a cartilha.