Os rumores sobre a suposta gravidade do quadro de saúde do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, mobilizaram nas últimas horas as comunidade de inteligência de Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos uma vez que poucas informações vazam a partir das fronteiras do país asiático.
Os boatos segundo os quais Kim estaria à beira da morte ganharam força na noite de segunda-feira (20), quando a rede americana CNN divulgou que o líder norte-coreano teria passado por um “procedimento cardiovascular” e estaria em “grave perigo”. A informação foi noticiada om base em uma fonte anônima da Casa Branca.
Porém, ao longo do dia (no Extremo Oriente, madrugada aqui no Ocidente), a Coreia do Sul afirmou que “não viu nenhum sinal” de que tenha ocorrido algo com Kim. Fontes do Partido Comunista Chinês também disseram “acreditar que Kim não esteja gravemente doente”.
Os dois países são os que têm maior capacidade de conhecer o que ocorre dentro das fronteiras norte-coreanas. A China por ser o principal aliado do regime e seu fiador internacional. E a Coreia do Sul por ter retomado vínculos históricos entre os dois povos nos últimos anos, que favoreceram o degelo das tensões. O governo tem um canal direto com Pyongyang e a essa altura já deve saber o que realmente está acontecendo.
Os rumores sobre o real estado de saúde do ditador não são novos. Apesar de jovem (teria 35 anos, mas sua data de nascimento não é revelada), Kim é obeso e fumante. Teria problemas cardíacos. Sua ausência, em 15 de abril, nas celebrações do aniversário do avô, Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte morto em 1994, levantou suspeitas. Foi a primeira vez que um líder norte-coreano não participou da cerimônia. Especula-se que ele não tenha ido para se prevenir da covid-19, embora o próprio ditador negue a existência da doença no país, um dos poucos no mapa da OMS a indicar zero registro de coronavírus.
Mas e se Kim morrer? Haveria sucessão na família? Ou seria o fim da aventura comunista na península coreana?
Primeiro, seria um choque em uma sociedade fechada, totalitária, que vive em torno do grande líder. Segundo, pela primeira vez não haveria um sucessor direto ao posto. Como estamos falando de uma dinastia, nas vezes anteriores em que o líder morreu (Kim Il-sung e, depois, Kim Jong-il), um dos filhos assumiu como presidente. Kim não tem herdeiros.
Como estamos falando de um regime totalitário, a obediência às instituições é algo que não existe. Assim, mesmo havendo a figura de um vice-presidente, a história mostra que esse funcionário praticamente não intervém quando ocorre a morte do ditador. Provavelmente, veremos uma luta pelo poder nas entranhas do Partido Comunista - dois dos três membros do Comitê Permanente são muito idosos, sobraria provavelmente para o presidente do Departamento de Organização e Orientação Choe Ryong Hae, o mais jovem. Seguindo a tradição, possivelmente ele lideraria a transição, em espécie de mandato-tampão de poucos dias, para instalar um membro da família Kim no poder - as apostas recaem sobre Kim Yo Jong, 31 anos, irmã mais nova do ditador.
É muito pouco provável o colapso do regime. Ditaduras como a da URSS e da China não caíram com a morte de Josef Stalin e Mao Tsé-tung. E aqui, na América Latina, apesar de alguma abertura, Cuba, mesmo sem os irmãos Castro no poder, ainda é comandada pelo Partido Comunista.
A eventual morte de Kim teria efeito direto das negociações de paz. Centralizador como qualquer ditador, ele foi protagonista de momentos históricos recentes, como a reunião de cúpula com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Singapura, e o encontro dos dois na fronteira entre as Coreias. Mas os termos de eventuais acertos entre Kim e Trump sobre a desnuclearização da região até hoje são pouco claros e nada precisos. Tanto que recentemente o regime retomou os testes com mísseis. Dada a intempestividade de ambos os líderes, os termos de acordo podem ser rompido a qualquer momento. Com ou sem morte de Kim.