Se a gente olha o mapa dos Estados Unidos, a geografia da Superterça se resume assim: Joe Biden venceu nos Estados à direita, da Costa Leste, e mais para o Sul, enquanto o senador Bernie Sanders ganhou à esquerda, nos territórios da Costa Oeste.
O ex-vice-presidente levou a melhor em nove Estados: Virgínia, Carolina do Norte, Alabama, Tennessee, Arkansas, Oklahoma, Minnesota, Massachusetts e Texas. Muitos desses Estados do Sul têm importante população negra. Biden claramente capitaliza o voto de eleitores do ex-presidente Barack Obama.
Sanders vence em três Estados: em Vermont, pelo qual é senador, no Colorado e em Utah. Segundo projeções, a Califórnia — o grande trunfo da Superterça — também seria dele.
O território distribui 415 delegados, mas Sanders não leva o total. Diferentemente da contagem no colégio eleitoral, no dia da eleição, o vencedor não leva todos (winner-take-all) nas primárias. Os delegados são dados proporcionalmente de acordo com a quantidade de votos que cada candidato conquista. O senador levaria na Califórnia, segundo projeções, 202 delegados, e Biden, 142.
Se a apuração da Superterça terminasse agora, Biden ultrapassaria Sanders e lideraria a corrida pela indicação democrata com 439 delegados. Sanders teria 346 (já somando todos os Estados que realizaram prévias na terça e das quatro anteriores, mas ainda não incluindo a Califórnia). A senadora Elizabeth Warren, que deve desistir da disputa esta semana, não ganhou nem no Estado onde nasceu, Massachussets.
A surpresa é a absoluta derrota do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, que investiu US$ 500 milhões em propaganda, não havia participado das quatro prévias anteriores, apostou tudo na Superterça e se deu mal: venceu apenas em Samoa Americana, território na Polinésia. Nesta quarta-feira, sua equipe deve fazer uma reunião para reavaliar a estratégia e não está descartado que jogue a toalha.
Bloomberg rivaliza com Biden e divide o voto moderado. Ele não conseguiu engajar os eleitores, em especial negros e latinos por causa de sua política discriminatória quando era prefeito de Nova York. Entrou tarde na campanha, e foi penalizado, em grande parte, por sua história política: virou a casaca várias vezes, era democrata, venceu a prefeitura pelos republicanos, tornou-se independente e agora volta a ser democrata.
Esse novo fôlego de Biden já vinha sendo observado desde o fim de semana, quando ganhou nas prévias da Carolina do Sul, e se consolidou com a desistência de dois pré-candidatos da ala moderada, Pete Buttigieg e Amy Klobuchar, que abriram mão da disputa em apoio ao ex-vice. Mas o desempenho do ex-vice ficou acima do esperado. Não é exagero falar-se em uma onda Biden.