O fim da aventura de Michael Bloomberg, que desistiu nesta quarta-feira (4) da disputa pela indicação do Partido Democrata, e a contenção de Bernie Sanders na Superterça, com as surpreendentes vitórias de Joe Biden, demonstram dois fenômenos importantes da política americana.
Primeiro, que a sigla está em avançado processo de decantação. Ou seja, peneirando rigorosamente seus nomes em busca de um consenso.
No início da disputa, havia mais de 20 pré-candidatos brigando para ser o anti-Donald Trump. O risco de os democratas não alcançarem um nome forte para convenção partidária, em julho, era real. Chegar fragmentado a Milwaukee significaria repetir os erros de 2016, quando uma disputa fratricida até os últimos minutos enfraqueceu o partido para a disputa com os republicanos. Prolongar a rivalidade em 2020 significaria entregar de bandeja o segundo mandato a Trump.
Segundo, a decantação democrata significa que o partido está fazendo o que os rivais do Partido Republicano não fizeram em 2016: barrando os outsiders.
Há quatro anos, Trump foi crescendo, primária após primária, mesmo que os caciques do partido torcessem o nariz. Quando chegou a convenção, em Cleveland, as lideranças partidárias não tinham mais o que fazer para barrar o bilionário e seu discurso anti-establishment a não ser engolir o choro e fazer oposição velada.
Os democratas, ao contrário, estão fechando questão em torno de Biden para barrar Sanders, um candidato que veem como radical demais para seus ideais, uma aposta temerária que pode comprometer não só os planos para a Casa Branca, mas também para o Congresso.
A expressiva vitória de Biden na Carolina do Sul, no sábado, e o temor dos chefes do partido diante da ascensão de Sanders deflagraram uma máquina de apoios de lideranças partidárias ao ex-vice-presidente de Barack Obama.
As saídas de Pete Buttigieg, de Amy Klobuchar e, agora, de Bloomberg, em apoio a Biden, mostraram o poder de influência que lideranças democratas ainda têm sobre suas bases. O único problema será se Sanders voltar a vencer em prévias importantes que ainda virão por aí – com o voto popular na mão, ele teria força para peitar os chefes da sigla.