No momento em que o resultado do primeiro teste da chanceler Angela Merkel registra negativo para coronavírus - falta a contraprova - nesta segunda-feira (23), pesquisadores se debruçam sobre as estatísticas da Alemanha, que se destaca pelo baixo índice de letalidade em relação aos vizinhos.
Na Europa, os países em situação mais dramática são Itália (5.475 mortos, taxa de letalidade de 9,25) e Espanha (1.813 mortos, taxa de 6%). A Alemanha, que aparece em quinto lugar no mundo com mais casos (26.159) e o terceiro do continente, conta, até esta segunda-feira (23),com 94 óbitos, taxa de 0,35%.
Não há explicações suficientes para entender o limitado número de mortes. O vírus pode se comportar de forma diferente em cada país, continente e possivelmente hemisfério (aqui, é início do outono, na Europa, da primavera). Mas, segundo pesquisadores, é possível destacar pelo menos cinco hipóteses.
1 - Exames em massa
A Alemanha está seguindo a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e vem realizando exames em massa para detecção do vírus, inclusive em pessoas com sintomas leves da covid-19. Casos confirmados são rapidamente isolados - e é feito um rastreamento das pessoas com as quais o paciente teve contato. Essas também entram em quarentena. A capacidade do sistema de saúde alemão de realizar de exames (160 mil por semana, segundo o Instituto Robert Koch) é superior inclusive à da Coreia do Sul, país que é visto como exemplo asiático de contenção da doença.
2 - Reação rápida
A Alemanha registrou o primeiro caso de coronavírus dentro de suas fronteiras em 27 de janeiro. Mas, quase 20 dias antes, o governo já havia criado um comitê de vigilância. A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou coronavírus pandemia em 11 de março. O comitê existia desde o dia 6. A Alemanha foi relativamente poupada do avanço descomunal que o vírus teve na Itália, porta da doença na Europa. Isso pegou o país mais preparado. A Alemanha fechou as divisas da Baviera, que faz fronteira com a Áustria e República Checa. Antes, já havia interrompido acessos à Áustria, França, Suíça e Polônia.
3 - Jovens e adultos infectados
Por enquanto, os idosos, faixa etária de maior risco para o coronavírus, estão sendo poupados no país. Cerca de 70% das pessoas infectadas têm entre 20 e 50 anos, intervalo de idade no qual as pessoas resistem melhor ao vírus. Na Itália, a idade média dos infectados é de 66 anos. Cinquenta e oito por cento têm mais de 60 anos.
4 - Distanciamento social
A exemplo de outros países da Europa, a Alemanha tem adotado medidas de distanciamento social. A própria chanceler se colocou em quarentena no domingo (22), depois que houve suspeitas de que poderia ter sido infectada ao ter contato com um médico cujo teste deu resultado positivo para o vírus. Merkel está na faixa de risco: tem 65 anos.
O governo proibiu interações sociais que envolvam mais de duas pessoas em espaços públicos. A multa para quem desrespeitar a regra é pesada, podendo chegar a 25 mil euros.
5 - Sistema de saúde eficiente
A exemplo do Reino Unido, a Alemanha tem sistema público de saúde. Além disso, conta com outro diferencial: tem uma das maiores taxas de leitos hospitalares por habitante do mundo: oito vagas para mil. Para se ter uma ideia, na Itália são 3,2 leitos por mil habitantes. O país de Merkel também conta com a maior concentração de hospitais da Europa
Esse cenário, afirmam pesquisadores, pode mudar. É apenas um retrato do momento na Alemanha.