Dois testes para Trump
A eleição para a presidência dos Estados Unidos, em novembro, é um dos principais fatos políticos previsíveis no mundo. Só uma tragédia tirará o segundo mandato de Donald Trump. O desemprego é o mais baixo em meio século (3,5%) e a revisão mantém alta de 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre. Os democratas estão desarticulados e entraram na aventura do processo de impeachment que os faz perderem tempo e foco. O julgamento político de Trump por abuso de poder e obstrução da Justiça passou na Câmara, mas deve morrer no Senado, onde os republicanos são maioria. A reeleição de Trump favorece o governo do presidente Jair Bolsonaro, cuja política externa tem demonstrado alinhamento automático com Washington.
Enfim, o divórcio do Reino Unido
Quase quatro anos depois do referendo no qual a maioria dos britânicos votou pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit finalmente deve ocorrer. A vitória do primeiro-ministro Boris Johnson nas eleições turbinaram o processo. No dia 20 de dezembro, o parlamento aprovou o acordo com a UE proposto pelo chefe de governo. Após o recesso de fim de ano, os parlamentares deverão ter três sessões para realizar novos debates e apresentar possíveis emendas, nos dias 7, 8 e 9 de janeiro. Depois disso, está prevista a votação final na Câmara dos Comuns e o encaminhamento para a Câmara dos Lordes, que precisa ratificar o resultado. O governo já afirmou que vai sancionar a lei de saída antes da data prevista para que o Reino Unido deixe a União Europeia: 31 de janeiro. O divórcio, entretanto, provoca mais dúvidas do que certezas sobre o dia seguinte do ponto de vista político, econômico e social.
Revoltas sul-americanas
Em 2019, populações de vários países do continente foram às ruas no que muitos chamaram de Primavera Latino-Americana. No Chile, os protestos, muitas vezes com confrontos entre polícia e manifestantes, fez o governo do presidente Sebastián Piñera sentar-se no divã. Em resposta à pressão popular, reduziram-se salários de políticos à metade. Na área econômica, onde o país é visto como exemplo de adoção de práticas liberais, Piñera recorreu ao anúncio do pacote de medidas chamado oficialmente de Agenda Social. Mexeu na aposentadoria, na saúde, nas tarifas elétricas, na renda mínima e no imposto de renda. O grande teste de estabilidade do país será em 26 de abril, data do plebiscito no qual os chilenos irão decidir se deve ser escrita nova Constituição para substituir a que existe desde a ditadura de Augusto Pinochet. Os protestos devem continuar até lá.
A Bolívia, que tirou do poder Evo Morales após 13 anos consecutivos, deve ter eleições entre março e abril. O projeto de lei aprovado em novembro prevê máximo de dois mandatos consecutivos, o que inviabiliza nova candidatura do ex-mandatário. A dúvida é se herdeiros políticos de Evo no Movimento ao Socialismo (MAS) poderão concorrer. Exilado na Argentina, para onde viajou recentemente, o ex-presidente tem feito política à distância. E promete voltar "em breve" a seu país.
Mudanças no Mercosul
O Mercosul enfrentará, em 2020, os primeiros reflexos da reconfiguração política dos governos nacionais. O novo presidente argentino, o kirchnerista Alberto Fernández, colocou em prática pacote de emergência para debelar a crise – alta inflação, baixa atividade econômica e cotação alta do dólar. Nos primeiros meses, deve-se confirmar ou não o calote – o país deixou claro que terá dificuldades de honrar compromissos com o FMI, herdados de empréstimo de mais de US$ 50 bilhões em 2019.
Deve-se ficar atento à relação com o governo brasileiro. Após rusgas da eleição – com trocas de acusações –, Bolsonaro amenizou o tom em relação a Fernández, propondo "vínculo pragmático". Outra mudança de impacto no bloco é a saída da esquerda do governo no Uruguai, depois de 15 anos. A posse de Luís Lacalle Pou (centro-direita) será em 1º de março. Bolsonaro já confirmou que irá ao evento do aliado. Será o ano de se esmiuçar o acordo do bloco com a União Europeia, cujos detalhes são pouco conhecidos.
Venezuela - um ano de Guaidó
No dia 23 de janeiro, completa-se um ano da autoproclamação de Juan Guaidó como presidente da Venezuela. Nesse período, ficou claro que o líder da oposição, reconhecido como chefe de Estado por boa parte da comunidade internacional, não dispõe de força política para retirar Nicolás Maduro do poder. Guaidó perdeu timing. Hoje, limita-se a uma campanha por redes sociais e comícios em Caracas. O regime autoritário balança, mas não cai, porque Maduro detém o poder militar. Mudança de regime só ocorrerá por meio de intervenção armada – algo que Estados Unidos, Brasil e Colômbia têm rejeitado – ou por traição no alto comando das forças armadas. Maduro está tentando se afastar das políticas socialistas que regulavam preços de produtos básicos, tributavam importações e restringiam o dólar. Em consequência, a queda livre econômica da nação começa a desacelerar.
Hong Kong - avanço chinês
A virada do ano, nesta noite de terça para quarta-feira, é um indicativo de como será 2020 em Hong Kong. O território, um dos primeiros do globo a festejar o Réveillon com fogos e luzes impressionantes, desta vez, ficará às escuras. O governo local afirma que é uma questão de "segurança pública". Na verdade, é medo de que a aglomeração de pessoas descambe para megamanifestação por mais democracia. Jovens planejam manter protestos para pressionar Pequim por eleições livres. Para o Partido Comunista, fazer concessões pode levar a movimentos semelhantes em outras regiões. A China ainda deverá intensificar investimentos na África e América do Sul.
Rússia X EUA
Em 2019, Moscou e Washington suspenderam participação no Tratado sobre Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês). A Rússia deve se consolidar, no novo ano, como principal antagonista geopolítico dos Estados Unidos, com ares de Guerra Fria. Na sexta-feira, entrou em operação o primeiro regimento de mísseis hipersônicos Avangard, uma das armas desenvolvidas por Moscou e classificada pelo presidente Vladimir Putin de "praticamente invencíveis", capaz de atingir alvos em quase qualquer lugar do mundo. Ações de Putin desequilibram a balança de poder e põem em risco a estabilidade do planeta.