Há dois riscos embutidos no anúncio do retorno das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) à luta após a paz assinada em 2016. O primeiro é a possível aliança com o Exército de Libertação Nacional (ELN), grupo menor de orientação guevarista ainda em plena operação na Colômbia. A integração entre as organizações pode tragar a nação latino-americana que tanto avançou em segurança nos últimos três anos de volta à guerra.
Pela representatividade dos dissidentes que apareceram no vídeo divulgado na quinta-feira, há motivos para entender que não se trata apenas de manobra simbólica. Estão lá Iván Márquez, número 2 do grupo, Jesús Santrich, um dos negociadores do acordo e acusado de tráfico de drogas pelos EUA, e Henry Castellanos, ex-membro do estado-maior conjunto e chefe da Frente Oriental das Farc. Tirando o líder máximo das Farc, Rodrigo “Timochenko” Londoño, que deu adeus às armas e lidera o partido Força Alternativa Revolucionária do Comum, todos esses são membros da cúpula da guerrilha.
Em 2017, a maioria dos rebeldes das Farc se desmobilizou e cerca de 7 mil membros entregaram mais de 8 mil armamentos à Organização das Nações Unidas (ONU). Acredita-se, no entanto, que cerca de 2 mil tenham se negado a dar adeus às armas.
O segundo risco do retorno das Farc é geopolítico. Há suspeitas de relação entre a guerrilha e o regime de Nicolás Maduro, que protegeria combatentes e ex-combatentes. Com frequência há denúncias de ações da guerrilha na selva entre Colômbia e Venezuela.
Escaramuças entre militares colombianos e as Farc na porosa fronteira amazônica poderia ser o estopim para Maduro ou Iván Duque declararem guerra. Em geral, conflitos não começam com grandes manobras militares. Às vezes, bastam apenas atos isolados para acender o pavio.