BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Em um vídeo de 32 minutos divulgado na manhã desta quinta(29), Iván Márquez, antigo número dois das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), anunciou que "se inicia uma nova etapa da luta armada".
"Anunciamos que começou a segunda Marquetalia", disse, em referência ao local em que as Farc nasceram, em 1964.
Ele afirmou ainda que o grupo não foi vencido ideologicamente e que, por isso, "a luta continua". "A história registrará que fomos obrigados a retomar as armas."
O ex-líder da guerrilha disse que o desarmamento foi em vão, "em troca de nada", uma vez que o Estado não teria cumprido sua parte do acordo, que era a de proteger os ex-guerrilheiros -o número de assassinados por inimigos já ultrapassou 150 desde então.
A guerrilha, desmobilizada no fim de 2016 por meio de um acordo de paz aprovado pelo Estado e pelo grupo, tem tido cada vez mais dissidentes.
Eles estão se rearmando, alguns no próprio território colombiano, outros do outro lado da fronteira com a Venezuela. As estimativas oficiais são de cerca de 2.000 dissidentes. Em 2016, registrou-se 7.000 integrantes desmobilizados.
Márquez também anunciou que estão sendo realizados contatos com guerrilheiros do ELN (Exército de Libertação Nacional), que segue ativo e cometendo atentados, para que atuem juntos em algumas operações.
No vídeo, Márquez aparece ao lado de Jesús Santrich, outro ex-líder das Farc. Eles têm uma trajetória em comum: participaram da negociação de paz, em Cuba, passaram a integrar o Congresso colombiano após o acordo de paz, estão foragidos e têm pedidos de extradição sob acusação de tráfico de drogas solicitados pelos EUA.
Nesta quinta, 12 horas depois do vídeo, o mandatário colombiano se pronunciou, afirmando que uma nova guerrilha "não está nascendo".
"O que está nascendo é, sim, uma gangue de narcoterroristas, sem nenhum status político nem ideológico, portanto sem nenhuma chance de ser incluída em processos de paz", disse Iván Duque.
Ele ainda anunciou uma recompensa de 3 bilhões de pesos colombianos (cerca de R$ 3,6 milhões) por informações que levem à captura de cada uma das pessoas que aparecem no vídeo.
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, tem acolhido esses combatentes, assim como os integrantes do ELN, com quem o atual presidente colombiano suspendeu as negociações de paz.
Rodrigo "Timochenko" Londoño, líder das Farc, hoje convertidas em partido político sob o nome Força Alternativa Revolucionária do Comum, disse que não está de acordo com a decisão tomada pelos dissidentes e que seguirá o compromisso de paz.
Na última semana, ele se reuniu com o presidente Iván Duque. A Timotchenko, Duque pediu que expulse Márquez e Santrich e que o Tribunal Especial para a Paz (JEP), criado a partir do pacto e que confere penas alternativas e anistias a ex-guerrilheiros, deixe de julgar as causas de ambos, passando-as para a Justiça comum.
Assim, eles ficariam expostos aos pedidos de extradição feitos pelos EUA.
Duque ainda disse que conversou com o líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, sobre uma estratégia para perseguir os guerrilheiros, que têm transitado entre os territórios venezuelano e colombiano.
A estratégia visaria a uma ofensiva para que a ditadura de Maduro não servisse mais de abrigo para guerrilheiros e ex-guerrilheiros colombianos.
Antes um crítico do acordo e militante na campanha do "não" para o plebiscito de 2016, Duque, no entanto, prometeu não desistir do acordo.
Porém, algumas de suas atitudes, como a tentativa de intervir no Tribunal Especial de Paz e a redução da segurança oferecida a ex-combatentes, são vistas por muitos setores das Farc como uma afronta.
Até o acordo de paz ser assinado, mais de 200 mil pessoas tinham sido mortas por conta de atos da guerrilha.