No evento realizado no Rio de Janeiro, na terça-feira, em solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald e ao The Intercept BR, chamou a atenção o vídeo gravado por Tucker Carlson, da Fox News.
O apresentador de TV americano é uma das mais importantes vozes da direita nos Estados Unidos e admirado pelo presidente Donald Trump, que costuma viver às turras com a imprensa.
No vídeo, gravado em Washington e tendo como cenário a imagem do Capitólio, Carlson defendeu Greenwald. Também fez questão de ressaltar em duas ocasiões suas divergências frequentes de opinião com o colega, o que não o impede, segundo ele, de apoiar a liberdade de imprensa.
– Tenho acompanhado com bastante preocupação as ameaças do governo brasileiro de punir ou prender o jornalista Glenn Greenwald por suas reportagens sobre autoridades de alto nível. Eu conheço Glenn Greenwald há muitos anos. Com frequência nós discordamos sobre política, discordamos fortemente, mas eu sempre respeitei a integridade dele. Eu já convidei ele para o meu programa várias vezes. Na minha opinião, Glenn é um repórter cuidadoso e responsável. Eu admiro muito o jornalismo que ele faz, inclusive as reportagens sobre a NSA (Agência de Segurança Nacional) – afirmou, referindo-se aos vazamentos de Edward Snowden que escancararam a espionagem feita pelo governo americano de aliados.
Carlson é co-fundador e ex-editor chefe do site The Daily Caller. A Fox News, para quem trabalha atualmente, tem uma linha editorial conservadora, alinhada ao Partido Republicano. O jornalista destacou que Greenwald, apesar de ser um jornalista de esquerda, não se furtou em criticar a administração Barack Obama (do Partido Democrata, com viés progressista) por seus ataques à liberdade de expressão.
– Poucos progressistas estavam dispostos a fazer isso, Glenn estava. Eu admiro ele por isso. Preservar a liberdade de imprensa não tem nada a ver com partido. Não importa se você é de direita, de esquerda, ou se está em algum lugar no centro não importa nem e você acredita ou não em democracia: todo mundo deveria querer viver numa sociedade com uma imprensa livre. Um lugar onde jornalistas têm a liberdade de informar a população sem medo de ameaças ou perseguições. Sem fiscalização, pessoas poderosas irão abusar de seu poder. Nenhum país pode continuar livre sem uma imprensa livre – afirmou.
Na sequência, concluiu:
Obviamente, a política está muito polarizada agora. Isso é verdade nos EUA. Também parece ser verdade no Brasil. Mas a melhor forma de resolver essas diferenças é através do debate. Com certeza, eu entendo porque as pessoas nem sempre concordam com Glenn Greenwald. De novo: eu nem sempre concordo com Glenn Greenwald. Mas, no fim das contas, precisamos dele.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que Greenwald "talvez pegue uma cana" por divulgar as mensagens vazadas por hackers, que envolvem diálogos de procuradores da Lava-Jato e o ex-juiz Sergio Moro.