A polêmica em torno da visita do presidente Jair Bolsonaro ao Muro das Lamentações, nesta segunda-feira, em Israel, não se deve ao passeio em si.
Qualquer cidadão do mundo pode ir até o local, rezar, prestar reverência ao ponto mais sagrado do judaísmo, ou simplesmente conhecer, tocar o monumento histórico impressionante.
O problema é Bolsonaro ter ido até o Muro acompanhado de uma autoridade de Israel, no caso o maior representante do país, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Chefes de Estado ou líderes religiosos em visita a Israel, como Donald Trump e o papa Francisco, costumam ir até o local, mas não acompanhado de um governante israelense. Normalmente são passeios de caráter privado.
Por quê?
O Muro das Lamentações, último resquício do Templo de Salomão, está localizado na chamada Cidade Velha, uma área de apenas um quilômetro quadrado em Jerusalém Leste, que é o epicentro de décadas de crises entre israelenses e palestinos. Espremidos ali estão alguns dos pontos mais importantes das três grandes religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo. Está ali, por exemplo, o Santo Sepulcro, local onde o corpo de Jesus Cristo foi depositado após a crucificação e de onde ressuscitou, segundo a fé cristã.
Perto dali, muito próximos, estão dois dos pontos mais sagrados de judeus e muçulmanos: o Muro e, logo acima, a Esplanada das Mesquitas (que os judeus chamam de Monte do Templo), onde fica a Mesquita de Al-Aqsa, terceiro local mais sagrado do Islã.
Não bastasse a tensão religiosa na área, há o problema político. A Cidade Velha fica localizada na chamada Jerusalém Leste, uma área equivalente a três vezes o tamanho do bairro Restinga, em Porto Alegre, e que foi ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
A ida de Bolsonaro com Netanyahu até o Muro das Lamentações pode ser encarado pela comunidade internacional como o reconhecimento de que os territórios ocupados pertencem a Israel. Bolsonaro mexe em um vespeiro. O simples caminhar do então deputado Ariel Sharon pelo Monte do Templo, em 2000, deflagrou uma intifada (revolta palestina), que matou centenas dos dois lados. Pode haver protestos de países árabes, como a Jordânia, que administra os locais santos cristãos e muçulmanos da Cidade Velha.
O status diplomático de Jerusalém é uma das questões mais polêmicas no conflito entre israelenses e palestinos. Para os judeus, é a capital "eterna, única e indivisível" de Israel. O problema é que os palestinos reivindicam a parte leste da cidade também como a capital de seu futuro Estado. A comunidade internacional não reconhece Jerusalém como capital de Israel, tanto que a maioria das embaixadas está em Tel-Aviv — inclusive a brasileira. Estados Unidos e Guatemala são as únicas exceções.