Dois Benjamins disputam a eleição de terça-feira em Israel. Um deles, o atual primeiro-ministro e inspiração do presidente Jair Bolsonaro, tenta o quinto mandato – está há 10 anos consecutivos no poder, além dos três nos quais governou antes de Ehud Barak. O outro, um general da reserva, paraquedista, novato na política, que tem “roubado” eleitores da direita e da esquerda.
Além dos sobrenomes, Benjamin Netanyahu e Benjamin Gantz se diferenciam pelo apelido. Um é conhecido como Bibi. O outro, como Benny.
A eleição legislativa virou um referendo sobre a década Bibi. Ele comanda o país com maioria de apenas um assento no Knesset, o parlamento israelense – 61 dos 120 deputados –, o que torna difícil aprovar leis e conduzir a nação. As eleições estavam previstas para novembro, mas foram antecipadas após a dissolução do parlamento em meio a embates sobre a lei que permite recrutar judeus ultraortodoxos, até então isentos do serviço militar.
Bibi chega ao pleito no momento mais tenso de sua carreira, com denúncias de corrupção, fraude e abuso de confiança em três casos de doações recebidas de milionários, favores entre governo e empresários e tentativas de conluio com a imprensa. Mas as suspeitas parecem não ter tirado o brilho do político do Likud, partido de direita cuja principal marca é o pulso firme com os palestinos.
Aos 69 anos, Bibi é favorito. De cinco pesquisas divulgadas entre quinta-feira e sexta-feira, quatro atribuem à lista de Benny mais cadeiras do que à de Bibi (entre 28 e 32 contra 26 ou 27). Apenas uma pesquisa apresenta o Likud à frente (31 contra 30).
Mas, em Israel, nenhum partido conseguiu até hoje maioria absoluta (61). Prevalece a lógica de blocos e alianças. O presidente não tem a obrigação de designar o líder da lista com mais cadeiras a tarefa de formar uma coalizão. E é nesse ponto que Bibi é favorito sobre Benny, de acordo com os resultados previstos pelas pesquisas para outros partidos. Em 2009, por exemplo, o presidente Shimon Peres estabeleceu um precedente ao pedir a Bibi que formasse o governo, e não a Tzipi Livni, cujo partido Kadima tinha mais deputados.
Em um país que precisa reafirmar constantemente sua existência diante de inimigos das redondezas, temas como segurança e política externa naturalmente irrompem na campanha. Bem diferente do Brasil. Ou você imaginaria, a uma semana do pleito, um candidato por aqui viajar ao Exterior em busca de apoio? Bibi, nos últimos dias, foi aos EUA conversar com Donald Trump, recebeu Bolsonaro e viajou à Rússia para encontrar-se com Vladimir Putin.
A chance de Benny, líder da coalizão de centro-direita Azul e Branco, é seu passado militar. Alguns dos icônicos líderes da esquerda nacional também foram ex-comandantes das forças armadas israelenses, como Yitzhak Rabin e Ehud Barak (ambos do Partido Trabalhista). Mas, por enquanto, sua agenda é uma incógnita. O político de 59 anos tem um discurso mais leve em relação aos palestinos – o que agrada à esquerda – e vende-se como garantia de segurança – o que seduz a direita, especialmente no momento em que recomeçaram os ataques com foguetes do Hamas e as ameaças sírias nas Colinas de Golã.
Benny também é um outsider. E, se dependesse apenas disso, o retrospecto internacional recente lhe é favorável – que o digam Trump, Bolsonaro, Emmanuel Macron e outros.