O relatório dramático divulgado nesta segunda-feira pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), grupo de cientistas ligado às Nações Unidas que estuda as mudanças climáticas, é daqueles que não apenas nos angustia quanto nos joga na cara a incapacidade de dialogarmos enquanto humanidade.
Segundo o IPCC, temos de adotar mudanças "inéditas" na maneira como consumimos energia, viajamos e construímos nossas edificações para cumprir uma meta de aquecimento global menor, ou corremos o risco de assistir ao aumento nas ondas de calor, a tempestades, enchentes e e seca em algumas regiões. O relatório diz que é preciso "mudanças sem precedentes", agora, já, imediatamente, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. Ou seja, não se fala nem em chegar aos 2°C combinados no Acordo de Paris.
Para entender: as temperaturas do planeta já estão cerca de 1°C acima dos níveis pré-industriais e, caso o ritmo de aumento continue, a temperatura global deve atingir 1,5°C entre 2030 e 2052, segundo o IPCC. Em resumo, temos cerca de 12 anos para salvar o planeta.
As primeiras discussões mundiais sobre meio ambiente começaram anos 1970, chegando ao auge na Rio-92, quando se estabeleceu a necessidade de reduzir as emissões dos gases que produzem o efeito estufa. Desde então, todos os anos, ministros de Meio Ambiente, chefes de Estado e de governo passaram a se reunir em Conferências das Partes, as chamadas COPs.
Estive, como repórter, na de Buenos Aires, Montreal e Bali. O que se via era muito barulho e pouco resultado. Do lado de fora, ONGs chamando a atenção para problemas específicos: a caça às baleias, o risco da deterioração da grande barreiras de corais da Austrália, o desmatamento das florestas tropicais.
Do lado de dentro, países ricos e pobres se digladiando sobre de quem era a responsabilidade pelo mundo caminhar para o fim. Os desenvolvidos se negavam a reduzir suas emissões, os pobres fincavam pé para não pagar sozinhos o preço da preservação com seu subdesenvolvimento, e nessa torre de babel há ainda os céticos, que acham que tudo não passa de fantasia catastrofista da ciência. O mantra que vingou: a necessidade de se assumir responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Nos acostumamos, ao final desses encontros, a celebrar fracassos como pequenas vitórias.
Isso até incensado Acordo de Paris, em 2015, a mais ousada concertação global sobre a necessidade de agirmos como humanidade para evitar catástrofes. O acerto: assegurar que o aumento da temperatura média global fique abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais.
Mas, desde então, o pêndulo da história guinou para o lado conservador em vários países determinantes para a questão, como os Estados Unidos, um dos maiores poluidores mundiais. O discurso isolacionista, contrário ao cumprimento de metas conjuntas ou acordos multilaterais, ganhou fôlego.
Com guerras na Síria, tensões no Oriente Médio, Brexit, previsões sombrias sobre a economia europeia em 2019, crescimento da extrema-direita e o recrudescimento das migrações, alguém se preocupará com o clima? Alguma dúvida de que não chegaremos lá nos 12 anos? O cronômetro voltou a ser zerado nesta segunda-feira.