A exemplo do ex-presidente brasileiro Juscelino Kubitschek, Abdul Fatah Khalil al-Sisi, o todo-poderoso general que comanda com mão de ferro o Egito desde o golpe de 2013, vai mudar a capital de lugar.
Em algum momento entre 2020 e 2025, a milenar Cairo vai deixar de ser a sede do poder e da administração de um dos principais países árabes. Uma nova cidade, ainda sem nome, começa a nascer no meio do deserto do Saara, a 40 quilômetros da velha capital.
Como a Brasília de JK e Oscar Niemeyer, a nova capital egípcia será repartida em vários setores: o bairro administrativo, por exemplo, contará com uma gigantesca sede do parlamento, três vezes maior do que a atual.
Em uma reportagem do jornal El País, o repórter Ricard González comparou a “nova Cairo” como uma mistura de Dubai (Emirados Árabes Unidos) com Vancouver (Canadá), o que não deixa de ser um Frankenstein arquitetônico.
O governo calcula, por baixo, que o projeto custará o equivalente a R$ 6 bilhões. É muito pouco para se construir uma cidade. Está na cara que não se fala em cifras oficiais dada a falta de transparência habitual das ditaduras. O regime militar egípcio informa que parte da cidade será construída com “investimentos estrangeiros”. Leia-se, em grande parte, saudita.
Na semana passada, o colunista Leonardo Oliveira, do Esporte da Zero Hora, comentou que o bilionário Turki al-Sheikh, chefão do futebol da Arábia Saudita, comprou o pouco conhecido time de futebol Pyramids F.C., para onde levou o técnico brasileiro Alberto Valentim (ex-Botafogo) e os jogadores Keno (ex-Palmeiras) e Rodriguinho (ex-Corinthians).
A casa dos Saud tem projetado seu “soft power” sobre o nordeste da África – já que seu “hard power” é bem conhecido no Iêmen – como forma de neutralizar a influência iraniana na região.
As maquetes da nova capital impressionam para um país em desenvolvimento como o Egito, que passou há pouco tempo por uma revolução, colocou fim à ditadura do faraó Hosni Mubarak, elegeu um governo islâmico e foi palco de um golpe que recolocou no lugar um regime autoritário.
Al-Sisi, que quer passar à história como o grande reformador do Egito, implantou os chamados projetos nacionais, que consistem de obras mastodônticas, como a ramificação do Canal de Suez e, agora, a nova Cairo. A conclusão da primeira etapa das obras está prevista para 2021, mas já no próximo ano o governo pretende mudar todos os ministérios para lá, além de convidar as embaixadas a fazerem o mesmo.