A tensão deu lugar ao alívio para a brasileira Tatiane Edicleia Araujo, 36 anos, que acompanha a poucos metros da caverna tailandesa o resgate dos 12 meninos e seu treinador. Há seis anos morando em Chiang Rai como missionária da Comunidade Getsêmani da Igreja Batista, a paranaense natural de Arapoti passou os últimos dias trabalhando como intérprete voluntária das equipes internacionais que auxiliam no socorro do grupo.
Às 22h deste domingo (12h pelo horário de Brasília), ela conversou com GaúchaZH, por telefone, comemorando o sucesso da operação. Até este momento, quatro meninos foram retirados da caverna e estão no hospital de Chiang Rai. Segundo ela, os outros e o técnico já foram retirados do refúgio onde ficaram nos últimos dias. Estão em local mais próximo da saída.
- Não há mais risco - garante.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como está a situação do resgate?
Quatro já estão no hospital e os outros estão em outro lugar da caverna esperando o resgate.
Os que estão na caverna já saíram do refúgio, ou seja estão em outro local?
Já saíram do local mais alto da caverna, foram levados para o terceiro ponto, onde não há água, dali eles vão para a entrada da caverna.
Dá para dizer que não há mais risco?
Não tem mais risco agora.
A senhora está ajudando?
Eu sou voluntária como tradutora.
Como foi acompanhar tudo isso?
A gente recebeu a notícia oficialmente no sábado, 23 de junho. Esse time (as crianças que integram o grupo de futebol) teve um jogo em uma cidadezinha de fronteira. Eu moro a uma hora e 10 minutos do local. Esse time tinha ido para essa caverna dois anos atrás. Eles conheciam o local, já tinham ido passear e tinha dado tudo certo. No dia 23 de junho, eles iam comemorar o aniversário de um dos integrantes do time e decidiram ir passear na caverna. Era para ser rápido. Agora, em junho, começa a época de chuva aqui, na Tailândia, e se estende até outubro. Aí choveu, e eles foram caminhando até onde não havia água, porque toda a caverna estava inundando. Foram caminhando, caminhando até achar um ponto alto. Ficamos sabendo às 16h do dia 24 de junho que 12 meninos e o técnico haviam ficado presos dentro da caverna.
A senhora conhece a caverna?
Conheço, já entrei lá. A caverna é ampla na entrada e tem vários pontos em que se desce, depois vai subindo de novo. É um ponto turístico, mas tem um limite, que você não pode ultrapassar. Ela é bem longa, bem profunda. Os turistas normalmente vão, tiram foto até esse ponto limitado. Há pontos que enchem de água, é um sobe e desce… sobe e desce.
Como foi a semana na cidade?
Todo mundo ficou muito preocupado. E aí começaram a enviar as primeiras equipes de resgate para o local. No domingo mesmo. Não se conseguia identificar nada, só as bicicletas, algumas chuteiras. Começou toda a programação de busca. Só consegui ir para lá porque chegou muita gente de fora. Foram 13 países que enviaram ajuda. Eles precisaram de voluntários para traduzir do tailandês para o inglês e vice-versa.
Como foi a sua ajuda?
Hoje, só ficou a equipe de saúde e militares. Subi até a montanha, fizeram meu registro de voluntária. Você fica em um local até te chamarem. Eu traduzi para uma militar dos EUA. Éramos 20 voluntários.
A quantos metros vocês ficaram da caverna?
Bem próximos, uns dois metros.
Está chovendo muito?
Está chovendo todos os dias, bastante chuva, para e volta de novo. Mas, com relação ao resgate, está indo muito bem. Quatro estão no hospital e os outros estão esperando.
As equipes de resgate estão confiantes?
Todo mundo muito confiante. Apesar do cansaço e muita pressão da mídia, em nenhum momento, eles falaram em desistir ou que não daria certo. Principalmente pela contribuição de muitos países, estavam envolvidos engenheiros, pessoas especializadas em cavernas de China, Japão, Austrália, EUA, Alemanha, Laos. Isso ajudou muito. Inclusive equipamentos que aqui na Tailândia não tinha. Foi a primeira vez que aconteceu um fato assim em toda a história da Tailândia. Equipamentos que não estavam disponíveis na Tailândia foram trazidos do Japão, da China e dos EUA.
O que marcou a senhora ao longo desta semana?
As famílias que ficaram o tempo todo de frente para a caverna esperando notícias, que fossem encontrados. E o dia em que foram encontrados, na segunda-feira, dia 25 de junho às 22h30min. Muito choro, muita lágrima, muito sorriso, as pessoas se abraçavam. Foi muito marcante.
Como é para uma brasileira acompanhar isso?
Me emocionei muito sem nunca ter visto o rostinho deles, parecia que a gente já conhecia eles há muito tempo, e a gente queria que eles fossem encontrados.
E agora, o que a senhora sente?
É uma sensação de alívio. Todo mundo que trabalhou, se empenhou nesses quase 20 dias de trabalho, pode respirar tranqüilo agora. Principalmente as famílias.