Observe as fotos acima.
Há algo de muito errado no mundo quando imagens como estas passam a chegar aos nossos computadores ou celulares com frequência. A menina Yanela, dois anos, aos prantos, fotografada enquanto a mãe era revistada por um oficial de fronteira entre México e EUA, acaba de entrar para o hall das imagens icônicas que resumem o drama de milhões. Está ao lado de pequenos heróis como Samar Dofdaa, 34 dias, rosto da fome na Síria, o menino Aylan, da praia da Turquia, e Omran, da ambulância de Aleppo.
Todas essas fotos costumam estragar o nosso café da manhã de cada dia, nem que seja por alguns instantes, antes de voltarmos às nossas rotinas diárias de brasileiros distantes dos focos de tensão do planeta.
Com apenas 1,925 quilo, Samar foi levada pelos pais para uma clínica, onde morreu no dia seguinte. Omran, o garoto da ambulância, foi fotografado semanas atrás com a família. Está recuperado dos ferimentos e o pai virou defensor do regime de Bashar al-Assad. Aylan, você sabe, já ganhou o mundo morto em uma praia turca.
Enquanto você lê esse texto, Yanela e a mãe, ambas de nacionalidade hondurenha, estão no South Texas Family Residential Center, um centro de detenção em Dilley, Texas — informação que, aliás, só foi divulgada pelo governo dos Estados Unidos depois de uma semana de insistência por parte de veículos de comunicação, em especial o Buszzfeed, que desde sábado exigia saber das autoridades o paradeiro da menina.
As duas foram detidas em McAllen, após passarem de jangada pelo Rio Grande. A crise dos migrantes tem origens e proporções diferentes no Oriente Médio, na Europa e na fronteira americana. Mas há um elo comum: são as crianças que mais sofrem. Infelizmente, imagens assim são necessárias para nos sacudir, desacomodar-nos. Ajudam a nos lembrar que existem pequenas Sírias também do lado de cá do planeta. Mesmo que pensemos nisso por apenas por alguns segundos.