Em uma das manifestações em defesa de seu indefensável processo de separar crianças de seus pais, o presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira que os Estados Unidos não irão se transformar em um "campo de migrantes". Mas, se der continuidade a essa política de apartar menores de seu responsáveis, há outros campos, bem mais dramáticos, em que o território americano pode se transformar nos próximos dias.
Até agora, 1.995 menores foram afastados dos pais que tentavam ingressar nos EUA entre 19 de abril e 31 de maio, segundo o Departamento de Segurança Interna. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que é preciso preservar a unidade familiar, e o processo levou a críticas inclusive da primeira-dama Melania.
Há cerca de dois meses, a Casa Branca decidiu adotar tolerância zero contra quem cruza a fronteira ilegalmente. Com isso, adultos são processados criminalmente pela travessia ilegal, e encaminhados a presídios federais. As crianças, que por lei não podem permanecer nesses estabelecimentos, acabam sendo enviadas para abrigos mantidos pelo governo, e ficam sem contato com os pais. O maior depósito humano da atualidade é um antigo Walmart, em Brownsville, Texas, com 1,5 mil menores.
Antes, o governo americano optava por tratar os casos em cortes especializadas em imigração, sem indiciamento criminal, e as famílias eram mantidas unidas em centros de detenção para imigrantes. Em sua declaração infeliz desta segunda, Trump voltou a responsabilizar os deputados democratas por uma legislação que considera "horrível". No Twitter, afirmou em letras garrafais: "MUDEM AS LEIS!".
Os imigrantes em geral e as crianças em particular viraram vítimas de manobra na disputa política que já levou a paralisação do governo em janeiro. À época, os democratas exigiam que Trump negociasse questões ligadas à imigração como parte de qualquer acordo para restabelecer o funcionamento do governo e acusavam o presidente de descumprir a promessa de proteger os chamados dreamers, imigrantes que entraram ilegalmente nos EUA quando eram crianças e estavam sob ameaça de deportação.
Agora, o presidente acusa os democratas para forçá-los a assumir uma nova legislação imigratória que, além de restrições, inclua recursos para seu prometido muro na fronteira com o México. Já alguns republicanos, incomodados com a repercussão negativa da separação das famílias, devem pressionar Trump a voltar atrás em sua política de tolerância zero. No meio da discórdia, estão os imigrantes ilegais. Em outras palavras, os pais e, sobretudo, as crianças.