O presidente da França, Emmanuel Macron, diz ter provas de que forças do governo de Bashar al-Assad usaram armas químicas na região de Douma na semana passada. O americano Donald Trump ameaçou: "Mísseis virão". Menos de 24 horas depois, recuou. Virão, pode ser em breve ou não.
Qual o risco de uma guerra na região?
Primeiro, o fato de a França ter provas – se mostrá-las – reforça a onda crescente pela opção militar. O país é um dos líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e tem grande influência histórica na Síria.
Depois da I Guerra Mundial, com o esfacelamento do Império Turco-Otomano e a divisão do espólio da região entre os vencedores, coube à França administrar o território, que só conquistou independência em 1945. Macron, líder emergente que se alça como dirigente da União Europeia (UE) em disputa de poder com a chanceler alemã, Angela Merkel, pode usar da situação para se firmar como personalidade do continente. A França sob Macron tem se mostrado uma nação emergente em oposição aos EUA e como terceira via na bipolaridade EUA-Rússia na Síria, palco principal da nova Guerra Fria do Oriente Médio.
O bombardeio, se vier, deverá ser pontual: restrito às instalações militares sírias, de onde foram lançados os ataques contra a população de Douma. Ou, no máximo, contra depósitos que armazenam as supostas armas químicas de Al-Assad.
Os mísseis provavelmente sairão de navios ou submarinos americanos no Mar Mediterrâneo, com capacidade de lançar Tomahawk. Outra opção é a base aérea de Incirlik, da Otan, na Turquia. Seria algo semelhante à resposta militar americana do ano passado, após suposto uso de gás químico pelo governo de Bashar al-Assad. Na ocasião, os EUA lançaram 59 mísseis de cruzeiro contra a base aérea de Al-Shayrat. Aquela resposta foi rápida. Desta vez, Trump pode ter perdido o timing.
Se o ataque for cirúrgico, a ofensiva será limitada. As chances de resposta síria em nível regional são mínimas — mas Israel sempre está a perigo no caso de o governo sírio retaliar.
O risco maior hoje está em uma segunda camada: o presidente russo, Vladimir Putin, é o atual senhor da Síria. Nada se mexe em Damasco sem que ele saiba ou ordene, por trás de Al-Assad. O envolvimento do Kremlin após uma ação militar do Ocidente tem potencial para incendiar a região. A partir daí, as consequências seriam imprevisíveis e uma guerra total no Oriente Médio muito provável. Talvez isso explique porque, desta vez, Trump tem titubeado.