Durante décadas, o Paraguai levou a culpa por quase tudo de ruim que acontece na América Latina: saída das armas que entram no Brasil e alimentam quadrilhas nas capitais; entreposto da droga que vem de Colômbia e Bolívia; meca de produtos falsificados; destino dos carros roubados por aqui.
O país continua sendo tudo isso, infelizmente. Muito por reflexo de mazelas da derrota na Guerra do Paraguai. Em parte pela corrupção endêmica e também devido aos 35 anos de ditadura.
O que não se pode negar é que, enquanto Brasil e Argentina patinavam em suas crises internas recentes, o patinho feio do Mercosul crescia cerca de 4% ao ano em uma década. O país aumentou as importações e incentivou o consumo ao facilitar crédito para compra de veículos, eletrônicos e eletrodomésticos.
Ficou fácil para Horacio Cartes, presidente que está saindo do Palácio de los López, eleger seu sucessor, o ex-senador Mario Abdo Benítez, o Marito. Com o boom da economia, foi só colocar em ação a engrenagem da máquina do Partido Colorado naquilo que ele tem de expertise: o populismo. No poder há 70 anos (com exceção de cinco de Fernando Lugo), a legenda, cujo nome oficial é Asociación Nacional Republicana, deu guarida a um ditador, Alfredo Stroessner, outros generais golpistas, como Lino César Oviedo, e a uma legião de demagogos.
Marito, aliás, é filho do ex-braço direito de Stroessner. Durante a campanha, ele costumava se irritar quando os jornalistas perguntavam sobre a relação de seu pai com a ditadura. Pediu que seja julgado por seu presente e não pelo passado.
Pois bem, seu presente: o Paraguai é o país mais conservador da região, onde não só abortos estão proibidos como meninas de 10 anos são obrigadas a dar à luz mesmo tendo sido estupradas. Marito é contra a legalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo e propôs serviço militar obrigatório para filhos de mães solteiras. O objetivo, segundo ele: diminuir os índices de violência e o consumo de drogas.