O Oriente Médio é uma das únicas regiões do planeta com capacidade para desestabilizar a paz mundial em segundos. Depois do ataque desta sexta-feira (13) à Síria, o futuro da estabilidade internacional depende unicamente do presidente russo, Vladimir Putin. Em outras palavras, uma guerra total no Oriente Médio, envolvendo Rússia e Estados Unidos, vai depender de como o Kremlin irá reagir ao ataque.
Não é surpresa o bombardeio chegar antes do fim de semana. O presidente americano, Donald Trump, já havia anunciado pelo Twitter que os mísseis viriam. Cancelou sua ida à Cúpula das Américas para preparar a ofensiva.
Chegou a adiar sua decisão, contido pelos generais do Pentágono, enquanto o Departamento de Estado ganhava tempo para conquistar o apoio de importantes aliados — os britânicos, parceiros de sempre das aventuras americanas no Oriente Médio e na Ásia Central, mas principalmente da França do presidente Emmanuel Macron, que veio a público esta semana dizer que tinha provas de que o regime de Bashar al-Assad havia usado armas químicas contra sua própria população, no sábado.
Ou seja, este não é um ataque dos EUA à Síria. É uma ofensiva do Ocidente, acompanhada das principais potências do planeta - com exceção da Alemanha. Só pela costura diplomática e militar feita para o bombardeio, a operação desta sexta-feira já tem contornos grandiloqüentes: este é um bombardeio muito maior à Síria do que o realizado em abril do ano passado, quando foram lançados mísseis pontuais contra uma região remota do interior sírio.
Desta vez, a ofensiva tem como alvo a região metropolitana de Damasco, uma das mais antigas capitais do Oriente Médio, com 4,8 milhões de habitantes e, sobretudo, bastião do regime de Al-Assad. Do ponto de vista simbólico, é maior.
O ataque não foi feito apenas com mísseis Tomahawk, que podem ser lançados a partir de submarinos e navios no Mar Mediterrâneo, como se pensava. Envolve aviões, que partiram do Chipre, ou seja, mais extenso e com violação de espaço aéreo sírio.
Também está claro que a estratégia é neutralizar a longo prazo a infraestrutura síria: segundo o governo americano, foram atingidos supostos centros de pesquisa de armas químicas e biológicas, próximos a Damasco, e armazéns de armazenamento desse arsenal, entre outros locais.
Embora não tenha sido uma surpresa, a operação veio antes da confirmação por parte de inspetores internacionais que estão na Síria de que houve mesmo um ataque com armas químicas. Não há até o momento certeza se de fato arsenais proibidos foram utilizados. É muito provável que sim, dado o histórico monstruoso (palavra parecida utilizada pelo próprio Trump) de Al-Assad, um dos mais sanguinários ditadores atuais, que costuma matar sua própria população.
O grande problema em questão é o que virá depois da sexta-feira, 13 de abril de 2018? Não há estratégia. No Oriente Médio, é muito fácil fazer eclodir uma crise. Não é fácil concluí-la. As próximas 24 horas irão definir o futuro do Oriente Médio — e do mundo.