Uma vez por ano, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) se reúne em Nova York para discutir os principais temas globais. É uma das poucas vezes em que os líderes de 193 nações sentam-se na mesma sala, respiram o mesmo ar e ficam vulneráveis às mesmas palavras – podem tanto falar quanto ouvir o que lhes agrada ou lhes causa incômodos. Talvez seja o único local em que veremos no mesmo recinto personalidades tão díspares quanto Donald Trump, Nicolás Maduro, Michel Temer, Angela Merkel, Emmanuel Macron, Bashar al-Assad e Vladimir Putin.
Desde o gaúcho Osvaldo Aranha, o encontro é tradicionalmente aberto pelo Brasil (pelo presidente, desde João Baptista Figueiredo). E, ainda que se guarde o decoro das palavras medidas da diplomacia, normalmente alguém foge ao protocolo. Entrou para os arquivos da bizarrice internacional o discurso do venezuelano Hugo Chávez, que chamou George W. Bush de “diabo” e, performático, gesticulou como a afastar o cheiro de “enxofre” deixado pelo antecessor no púlpito.
Palhaçadas à parte, o encontro que deixa autoridades nova-iorquinas em alerta máximo de terrorismo diante de tantos chefes de Estado e de governo circulando por Manhattan enfrenta cada vez mais o desafio de se manter relevante em um mundo que questiona as instituições. Muito antes de movimentos como Occupy Wall Street, o 15-M espanhol, a Primavera Árabe ou as jornadas de junho de 2013 brasileiras, a ONU já era colocada no divã a refletir sobre seu real poder de garantir a paz – para isso foi criada em 1945. Também seu caráter representativo é questionado em um planeta multipolar cujo principal fórum de decisões, o Conselho de Segurança, está, desde a II Guerra Mundial, nas mãos de EUA, Reino Unido, França, China e Rússia.
Foi feliz o presidente da Assembleia Geral, o esloveno Miroslav Lajcák, ao afirmar que as pessoas que precisam mais da ONU não estão sentadas naquela sala do prédio à margem do East River. Porque, de fato, é longe da acarpetada sala da Assembleia Geral que os dramas se desenvolvem: na Coreia do Norte, na Venezuela, em Mianmar, no Oriente Médio, no Brasil e nos próprios EUA, cindidos pelo racismo e pela polarização política.
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