A meteorologia nos EUA é uma das mais avançadas do mundo, e furacões, de junho a novembro, são frequentes. Mesmo assim, de tempos em tempos, os americanos são surpreendidos pela ação devastadora desses fenômenos naturais e pela inépcia de seus governos.
Nesta segunda-feira, enquanto cenas de alagamentos e luta por sobrevivência em Houston tomam o noticiário internacional após a passagem da tempestade Harvey, o país se pergunta: por que a cidade não foi evacuada?
O prefeito Sylvester Turner, democrata, veio a público defender sua decisão de não ordenar a retirada da população. Tarde demais. Os americanos não costumam perdoar erros desse tipo – e, em algum momento, a conta chega.
Em agosto de 2005, o Katrina fez ruir, além dos diques de New Orleans, as carreiras de políticos como o prefeito Ray Nagin e o governador da Louisiana, Haley Barbour. Nagin chegou a decretar evacuação imediata e obrigatória diante do gigantesco furacão que se aproximava, mas 150 mil pessoas não conseguiram ou não puderam fugir.
Naquelas 48 horas após o furacão de categoria 5 (Harvey tocou terra no fim de semana rebaixado a categoria 4), percorri de carro a zona de desastre no sul dos EUA, como enviado de ZH. Estava claro: quem ficara para trás era criança, velho, doente, e, principalmente, negro e pobre. Não havia remédios e comida para todos. Havia um desinteresse explícito do governo por essas pessoas.
O Katrina foi responsável pela morte de 1,3 mil pessoas e pela diáspora de 1 milhão. Houston, que agora padece sob Harvey, teve aumento de 35 mil habitantes vindos da Louisiana – ou seja, possivelmente, muitas das vítimas do furacão de 2005 talvez estejam sofrendo sua segunda grande tragédia.
Para George W. Bush, que estava no primeiro ano do segundo mandato, era o início do fim. Sua resposta ao Katrina foi apática. Foi lá o ponto de inflexão de seu mandato. A popularidade perdida ali nunca mais seria recuperada, e sua presidência iniciaria uma tendência descendente.
Donald Trump declarou estado de catástrofe natural no Texas antes mesmo de o furacão tocar terra e tem enviado sucessivos tuítes para dizer que está atento. Mesmo que a decisão errônea de não evacuar a área tenha sido em nível municipal, as cobranças chegarão ao órgão federal de gestão de crise, a Federal Emergency Management Agency (Fema). Furacões não derrubam presidentes, mas causam um bom estrago. Que o diga George W. Bush.