Depois de 21 anos, os EUA voltam a ter uma sede diplomática em Porto Alegre. Embora já esteja funcionando desde 5 de junho, o consulado americano será inaugurado oficialmente hoje, em evento que marcará os 241 anos de independência do país. A um primeiro olhar, a representação desperta interesse dos gaúchos por facilitar a obtenção de visto – não será mais necessário viajar até São Paulo, Rio, Recife ou Brasília. Ou seja, economia em passagens, hotelaria e tempo.
Em uma época bicuda da economia global, não se abre uma sede diplomática toda hora, mesmo no caso dos EUA, maior potência mundial. Em março de 1996, o governo Bill Clinton fechou a representação em Porto Alegre, que funcionava no prédio do Instituto Cultural Brasileiro Norte-americano, no Centro Histórico, e outros consulados pelo mundo já em meio a restrições orçamentárias.
Quando, em abril de 2012, Barack Obama ordenou a reabertura da sede na capital gaúcha – com uma em Belo Horizonte, que só será inaugurada em 2019 –, estava de olho nos turistas. O anúncio feito pela secretária de Estado Hillary Clinton, durante visita da então presidente Dilma Rousseff, vinha na sequência de um decreto presidencial oficializado meses antes no parque da Disney, na Flórida. Tendo como fundo o castelo da Cinderela, Obama determinou a nomeação de novos cônsules, simplificou e acelerou o processo de visita para cidadãos de países como Brasil e China. A estratégia de Obama era fortalecer a economia por meio do turismo, que representa 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e garante 7,5 milhões de empregos. A Flórida não era escolha por acaso. É para lá que vai a maioria dos brasileiros. É lá que vive a maior comunidade latina. É lá o principal Estado-chave de cada eleição – em 2012, Obama estava em campanha pelo segundo mandato e turismo significava mais emprego também para os eleitores daquele Estado.
O consulado americano em Porto Alegre demorou mais do que o esperado devido a restrições econômicas. A previsão era abri-lo antes da Copa de 2014. Do anúncio de Hillary até a inauguração desta terça-feira passaram-se cinco anos.
A sede, cuja chefe máxima é Julia Harlam, diplomata de carreira do Departamento de Estado, com passagens por Cidade do México, Pequim e Xangai, vai muito além da concessão de vistos. É também um sinal de ruptura na sensação de que a América Latina não é prioridade da diplomacia americana. Espera-se o incremento de relações comerciais com o Rio Grande do Sul e parcerias culturais com universidades gaúchas. Por isso, com a cônsul Julia, um dos cargos-chave será o do responsável pelas relações culturais, John Jacobs, um dos diplomatas que melhor conhece o Estado por ter participado diretamente da implantação do consulado.
Ao retornar ao Rio Grande do Sul, os americanos encontrarão um Estado em crise financeira, caos na segurança e com ruas de sua capital esburacadas. Apesar dessas dificuldades, descobrirão que os gaúchos, embora com mais medo da violência, preservam ainda a hospitalidade que os tornou famosos mundo afora. Bem-vindos!