A agressão contra um grupo de congressistas americanos, que feriu gravemente o líder da bancada republicana, deputado Steve Scalise, em um estádio de beisebol, nos arredores de Washington, mas já em território do Estado da Virgínia, ocorre apenas dois dias depois do aniversário de um ano daquele que foi o pior massacre de um país, infelizmente, atormentado por esse tipo de prática. Na segunda-feira, enquanto no Brasil casais comemoravam o Dia dos Namorados, centenas de familiares e amigos lembravam, com flores e lágrimas, a madrugada em que um atirador abriu fogo dentro de uma boate LGBT em Orlando, matando 50 pessoas.
Até então, o ataque do tipo mais mortal havia sido em abril de 2007, no Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia (conhecido como Virginia Tech), em Blacksburg, na mesma Virgínia da ação desta quarta-feira. À época, morreram 32 pessoas, além do agressor, um estudante sul-coreano da própria universidade.
Sempre que acontece algo desse tipo nos EUA me vem à mente aquela que foi a mais cinematográfica de todas as ações: o massacre de Columbine. Naquele 20 de abril de 1999, na Columbine High School, no Colorado, dois jovens mataram 12 pessoas. O que nos atormentou, por anos, foi a confrontação descarnada com as mentes doentias dos estudantes Eric Harris e Dylan Klebold, que, além de assassinar colegas e um professor, arquitetaram um plano que previa o uso de bombas para afastar os bombeiros, tanques de propano convertidos em bombas colocados na lanchonete, 99 dispositivos explosivos, e carros-bomba. De lá para cá, muda o número de mortos, em geral maior, mas pouco o modus operandi.
Chama a atenção que esses atos, até poucos anos atrás, miravam centros universitários ou escolas de highschool, o Ensino Médio americano. Hoje, agressores extrapolaram as fronteiras dos campi, tendo novos alvos boates, shoppings, mercados e, mais recentemente ainda, classe políticos. Segundo o irmão do agressor desta quarta, o homem de 66 anos era um opositor do presidente Donald Trump e "não estava feliz com a maneira como as coisas estavam indo". O ataque lembra também a tragédia de janeiro de 2011 em Tucson, Arizona, quando um homem desequilibrado atirou, no estacionamento de um supermercado, contra uma congressista democrata, Gabrielle Giffords. A deputada levou um tiro na cabeça, sobreviveu com graves sequelas, enquanto seis outras pessoas foram mortas naquele dia.
O que veremos nos EUA - e aqui -, como sempre acontece após esses ataques, é o retorno ao debate de uma sociedade hiperarmada – que facilita acesso a arsenais como os usados pelos atiradores e que, por sua vez, alimenta o discurso de quem é favorável a um menor controle na venda justamente devido ao direito do cidadão de se defender de tais atos.
Ataques desse tipo apavoram o imaginário coletivo dos Estados Unidos mais até do que o terrorismo internacional. Afinal, de 11 de setembro de 2001 para cá, uma série de medidas em embaixadas, aeroportos, imigração e vigilância eletrônica reduziram as chances de um ataque de extremistas islâmicos externos à Homeland americana. Mas são insuficientes diante de inimigos internos, como James Hodgkinson, o atacante do campo de beisebol.