Ao demitir o diretor do FBI, o presidente Donald Trump pensa estar cortando o mal pela raiz. James Comey tornou-se um político-bomba andando pelas avenidas e parques de Washington, depois que se descobriu que ele mentiu no testemunho diante do Comitê Judiciário do Senado no caso dos e-mails da ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Ao lado das notícias falsas (as fake news), o episódio implodiu a candidatura democrata na eleição presidencial. No depoimento, Comey disse que o FBI havia achado milhares de e-mails de Huma Abedin, uma das principais assessoras de Hillary no Departamento de Estado, no computador de seu marido, Anthony Weiner. Algumas mensagens conteriam informações "classificadas", expressão, no jargão da diplomacia, que significa dados secretos. A suposta descoberta levou à reabertura do caso dos e-mails _ Hillary já estava sob suspeita por ter usado uma conta privada para troca de mensagens do Departamento de Estado.
A candidata acabou inocentada na semana que antecedeu a eleição, mas o estrago já estava feito. Era irreversível. Foi letal para seus planos de chegar à Casa Branca.Agora, descobre-se que a história não era bem assim. As afirmações de Comey estavam incorretas, e o próprio FBI teve de desmenti-las. Se o diretor mentiu sob juramento sobre o motivo da investigação, a reabertura do caso, lá na eleição, também é suspeita, como alegavam os democratas desde a campanha. Tudo pode, de fato, ter sido uma farsa arquitetada para aniquilar a campanha de Hillary. Desde sábado, o jornal The New York Times vem afirmando que Comey também pedira ao Departamento de Justiça, ao qual o FBI está subordinado, que desminta a afirmação de Trump, segundo o qual seu antecessor, Barack Obama, o grampeou durante a eleição.
Altos dirigentes da comunidade de inteligência conhecem tanto as entranhas do poder que dispõem da capacidade de, num estalar de dedos, corroer por dentro um governo. O exemplo mais conhecido foi Mark Felt, ex-número 2 do FBI que, magoado ao ter sido preterido da cadeira principal, tornou-se a fonte dos jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward, para revelar os podres do governo Richard Nixon. Comey, como Felt, o "Garganta Profunda", sabe demais. Particularmente, mentiu demais. Extirpá-lo do governo era necessário, antes que o escândalo se torne ainda maior. Mas Trump errou lá no princípio, quando comprou briga com a comunidade de inteligência, composta por, além do FBI e CIA outras 15 agências. Em Washington, não basta cortar o problema pela raiz. A essa hora, ele já é tentacular.