Na França, não há muito tempo para transição de poder. No próximo domingo, apenas uma semana depois da eleição, o candidato eleito, Emmanuel Macron, assume a presidência das mãos de seu ex-chefe, de quem foi ministro da Economia entre 2014 e 2016. François Hollande deixa o Palácio do Eliseu como o presidente que levou os socialistas franceses a um de seus piores mandatos da história recente.
Passado o fantasma Marine Le Pen, pelo menos momentaneamente, é hora de trocar o pneu com o carro em movimento. No sistema eleitoral francês, as disputas presidencial e legislativa ocorrem em momentos diferentes, mas com um intervalo pequeno entre as duas. O pleito de 11 e 18 de junho, que irá renovar 577 cadeiras da Assembleia Nacional, é decisivo para sabermos a real capacidade que Macron terá para governar o país polarizado, marcado por diferenças sociais, crise migratória, desemprego de 10% e no epicentro da ameaça terrorista que mira a Europa. No Brasil, nos Estados Unidos ou na França, nenhum presidente governa sem força no parlamento.
Boa parte da vitória de Macron vem do fato de ele ter se apresentado como um elemento novo na política francesa: nem de direita, nem de esquerda. De centro, ainda que ele próprio não goste dessa definição. A conta virá agora. O Em Marche!, partido que fundou de olho na eleição, tem apenas um ano de existência – ou seja, não dispõe da máquina política do Republicanos (conservador) ou do Partido Socialista, os grandes derrotados no primeiro turno mas ainda assim detentores de 491 das 577 cadeiras na atual configuração da Assembleia Nacional.
Fazer maioria nas legislativas é o desafio de Macron. Ou terá de governar por meio de alianças. O fato de ser egresso do PS, onde estava até agosto, o torna mais propenso a conseguir apoio da esquerda – ainda que essa esteja em queda livre por conta da baixa popularidade de Hollande. É aí que os 10 milhões de votos conquistados por Le Pen no domingo poderão pesar na balança, dando à Frente Nacional a maior bancada de sua história. O que não é difícil de se imaginar, uma vez que o partido tem apenas dois deputados na Assembleia Nacional, eleitos em 2012.
O voto em Macron não foi completamente um "sim" a sua proposta política alternativa a conservadores e socialistas, mas sobretudo a única opção anti-Le Pen. O voto de “exclusão”, ao invés da convicção, é seu entrave maior para conquistar maioria no legislativo. Segundo uma pesquisa, o En Marche! conseguiria entre 24% e 26% das intenções de voto, à frente de Os Republicanos (22%) e da Frente Nacional (21% a 22%), da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon (13%-15%) e do Partido Socialista (8%-9%). A batalha agora é outra.