Terrorismo é terrorismo. Não importa a região do planeta, a ideologia, se é de Estado, praticado por lobos solitários ou organizações. Tem o objetivo de provocar o maior número de mortes possível e deixar uma cauda longa de medo perene. Mas de uns 20 anos para cá, pode-se dizer que algo mudou na prática de atos terroristas, seja pela capacidade de organizar ataques complexos, como o 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, ou o 13 de novembro de 2015, na França, seja pela magnitude da crueldade: assassinam adultos, adolescentes e crianças em feiras de Natal, em orlas de paraísos turísticos ou em arenas de espetáculos.
E pensar que 21 anos atrás, em 1996, o grupo separatista irlandês IRA detonou um caminhão com 1,5 mil quilos de fertilizante químico convertidos em explosivo no centro da mesma Manchester da tragédia de segunda-feira passada. À época, era o maior ataque a bomba no Reino Unido desde o fim da II Guerra Mundial.
Detalhe: os autores avisaram com 90 minutos de antecedência que praticariam o ataque. Cerca de 75 mil pessoas foram evacuadas da região. Ninguém morreu, embora o centro de Manchester tenha sido devastado.O terror da Al-Qaeda e do Estado Islâmico é diferente do IRA, do ETA e até do Hamas. Todos mataram inocentes ao longo dos anos no Reino Unido, na Espanha e em Israel, dilacerando famílias e histórias. Mas, como nas guerras, parecia haver uma leve preferência por alvos militares ou governamentais, de alguma forma ligados às instituições às quais combatiam. Era quase um acordo informal. Essa mudança aconteceu também nas guerras: a cruz vermelha pintada sobre um hospital sacralizava o prédio, que ficava imune a bombardeios. No caso da imprensa, bastava colocar a inscrição “TV” ou “press” nos vidros dos carros e ter uma sensação – talvez falsa – de inviolabilidade.
Hoje, bombardeia-se ambulâncias da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e degola-se jornalistas no front. Mas há uma preferência especial por crianças e adolescentes em momentos felizes de um show de música pop.