A se confirmarem as pesquisas de boca de urna, o novo presidente da Coreia do Sul será o advogado Moon Jae-in, 64 anos. E por que nós, aqui no Hemisfério Ocidental, devemos prestar atenção nessa eleição?
Simples, porque a península coreana, dividida entre Coreia do Sul e do Norte, é uma das regiões mais militarizadas do planeta. Há quem diga, inclusive, que, se houver uma III Guerra Mundial algum dia, o embrião não será o Oriente Médio ou a tensão entre Paquistão e Índia, mas a porção de terra dividida pelo paralelo 38 entre as duas Coreias. Um presidente mais ou menos belicoso, mais ou menos alinhado com os EUA, pode significar que a região caminha mais ou menos de pressa para um novo conflito.
Em 1945, a península coreana foi separada em uma porção Norte, de domínio soviético, e Sul, com tropas norte-americanas estacionadas ali. No primeiro grande conflito da Guerra Fria, em 1950, o Sul (capitalista) e o Norte (comunista) entraram em confronto. Os norte-coreanos ultrapassaram o paralelo 38, dominando quase toda a península. A entrada dos EUA fez o Sul virar o jogo e avançar contra o Norte. Foi a vez de a China intervir, empurrando os sul-coreanos de volta ao paralelo 38. Três anos e 178 mil mortos depois, um armistício foi assinado, mas, como nunca houve um acordo de paz definitivo, fala-se, no jargão da diplomacia, que os dois países ainda estão tecnicamente em guerra.
A fronteira entre os dois países é uma das mais armadas do mundo. Em abril, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, visitou a região, onde reiterou que "a era da paciência estratégica (leia-se, soft power de Barack Obama) acabou". No mesmo dia, os norte-coreanos fizeram um teste com míssil, que explodiu no lançamento.
A vitória de Moon põe fim a 10 anos de domínio conservador no governo sul-coreano, período em que a região atingiu tensão máxima, com arroubos frequentes do governo comunista de Kim jong-un. O regime norte-coreano tem realizado frequentes testes com mísseis balísticos _ a exemplo do lançado na visita de Pence, quase todos fracassaram. As provocações, no entanto, reacenderam o alerta nos vizinhos Coreia do Norte e Japão e do outro lado do Pacífico, nos Estados Unidos. O governo americano quer acelerar a instalação de um sistema antimísseis semelhante ao que existe no Leste Europeu, e Donald Trump já deixou claro que os sul-coreanos é que devem pagar pela proteção. Em sinal de força, os americanos enviaram o grupo de porta-aviões USS Carl Vinson para águas na costa da península coreana.
Moon vai na contramão do discurso e atos belicosos de Trump. O presidente virtualmente eleito tem prometido uma reaproximação com os norte-coreanos. Sua plataforma de boas intenções inclui a reabertura do complexo industrial intercoreano de Kaesong, fechado pelo governo anterior no ano passado. Moon conhece por dentro a tensão na região. Nasceu durante o conflito dos anos 1950, é filho de pais que fugiram do norte comunista por causa do conflito.