Como alertou a coluna em fevereiro, Donald Trump dá os primeiros passos para restringir o acesso a informações oficiais do governo dos EUA. Recentemente, passou despercebida por aqui a decisão do Executivo de não reativar o registro público de visitantes à Casa Branca. Diariamente, dezenas de lobistas, doadores políticos, embaixadores e empresários têm acesso ao presidente e seus assessores. Com base nos nomes, disponíveis na internet, era possível analisar eventuais conflitos de interesses no governo. Qualquer pessoa podia ter acesso ao banco de dados.
Durante quase toda a presidência de Barack Obama, a relação de quem entrava e de quem saía da residência da Avenida Pensilvânia, 1.600, em Washington, onde fica a Casa Branca, era liberada. Exceções à regra eram permitidas para casos de visitas pessoais à família Obama ou por motivos de segurança nacional. Pouco depois da chegada de Donald Trump ao poder, em 20 de janeiro, essa base de dados tornou-se inacessível. E, há duas semanas, o governo confirmou que não voltará a publicá-la, argumentando que o registro público não é uma obrigação legal.
Transparência não é o forte de Trump, que até agora não revelou seu imposto de renda. Na lógica do "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", em 2012, o milionário repreendeu Obama por meio de sua conta no Twitter, que não divulgou alguns registros: "Escondendo alguma coisa?", questionou à época.
Os motivos agora são os de sempre: segurança e confidencialidade. Detalhes até agora obscuros da história americana, brasileira _ e de muitas outras nações _ repousam em arquivos bem guardados em Washington. De tempos em tempos, milhares de documentos são liberados, ou, no jargão do governo americano "desclassificados". Assim, ficamos sabendo, por exemplo, que a Casa Branca via sinais de um novo golpe militar em gestação no Brasil em 1989, tema de reportagem de ZH em fevereiro. Na visão de especialistas, o governo Trump teme a liberação iminente de documentos da era Ronald Reagan. Muitos funcionários da atual administração trabalharam na década de 1980 e se envolveram em escândalos como Irã-Contras, além de intervenções militares na Nicarágua e na Guatemala.
Segundo alertou à coluna um pesquisador que conhece os meandros dos arquivos de Washington, a expectativa é de que a proibição de acesso aos nomes dos visitantes da Casa Branca seja apenas a primeira de várias ações para tornar mais difícil a obtenção de documentos através do Freedom of Information Act (a lei de acesso à informação americana, que serviu de inspiração para a legislação brasileira e que garante acesso de qualquer cidadão a dados públicos).