Antes de aviões comerciais serem jogados como mísseis contra o World Trade Center, em 2001, o maior ataque que os Estados Unidos tinham sofrido havia sido em Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941. O bombardeio da base americana no Pacífico, uma surpresa tão grande quanto o 11 de Setembro seria seis décadas depois, levou o país à II Guerra Mundial. Se Osama bin Laden fora o arquiteto do maior atentado terrorista da história, o almirante Isoroku Yamamoto havia sido o mentor do dia da infâmia no Havaí.
Yamamoto personificava a marinha imperial japonesa. Os EUA estavam com seu nome atravessado na garganta. A Operação Vingança, realizada por 16 caças P-38 Lightning do Esquadrão 339, lavaria a honra americana. Em abril de 1943, criptógrafos interceptaram e decifraram uma mensagem em código japonesa onde constavam detalhes de uma viagem aérea do almirante. Ele inspecionaria bases em Papua Nova Guiné. Com pontualidade típica japonesa, em 18 de abril, sobrevoava a área de Bougainville a bordo de um bombardeiro Betty escoltado por caças Zero. Em uma impressionante batalha aérea, o avião do almirante foi abatida. Caiu na selva próximo a Buin. Quando encontraram seu corpo, dizem que ainda segurava um sabre de samurai. Os americanos perderam um Lightning, mas a missão, ou melhor, a vingança, fora cumprida.
Os destroços do avião japonês ainda hoje jazem na ilha, onde o segundo-tenente do Exército Nestor Antunes Magalhães, 66 anos, esteve em fevereiro. Aficionado por história militar, mergulhador com seis especializações, o gaúcho dedica-se a viajar a locais acessíveis a poucos: no fundo de mares onde repousam U-Boats alemães ou em naufrágios na costa de Portugal, nos golfos de Suez e Aqaba, em Truk Lagoon, Scapa Flow e Narvik.
Ele conta a aventura em Papua Nova Guiné:
– Tinha chovido, e a selva se apresentava gosmenta, úmida, infestada de malária. Com pouco mais de uma hora de marcha, começaram a aparecer pedaços das asas do avião, e, não muito tempo depois, a trilha desembocou em uma clareira. Lá, se encontrava dormitando o bombardeiro Betty. Emocionante! Do meio para a cauda estava relativamente inteiro. Com o leme e a rechonchuda fuselagem esburacados pelas balas dos Lightnings e retalhado pelos caçadores de relíquias. Um dos grandes motores radiais jazia em plena clareira, com as três pás da hélice cordadas à serra. A cor verde original da camuflagem, por causa de alguma reação química provocada pelo intemperismo de 74 anos, havia se modificado para traços avermelhados. O interior do avião também apresentava marcas de projéteis .50 e um ou outro rasgão de granadas de 20 mm.
A volta foi tão ou mais cansativa do que a ida, mas Nestor trouxe na mente a história. Nas suas palavras, “um momento inesquecível”, que ele pretende transformar em capítulo de um novo livro já em gestação.
Nestor Magalhães é autor dos livros U Boats – Mergulhando na História e De Truk a Narvik – Mergulhando na História. O próximo, que incluirá a história de Papua Nova Guiné (acima), irá se chamar De Guadalcanal a Creta – Mergulhando na História, deve ser lançado em outubro. Veja mais no blog: www.cavaleirodasprofundezas.com