Na quarta-feira passada, quando terminei o texto desta coluna sobre a crise no governo Trump deflagrada pela descoberta de que seu assessor de Segurança Nacional trocava informações com a embaixada russa sem que o chefe soubesse – e antes da posse –, entrou um push em meu celular sobre o encontro do presidente com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Uma frase bombástica: "A solução de dois Estados não é a única para o Oriente Médio, diz Trump". Em minutos, a notícia virava manchete mundo afora.
Ao afirmar que a coexistência entre dois países, um israelense e outro palestino, não era o único caminho para a paz, o presidente quebrou uma tradição da diplomacia americana, encantou a direita israelense e preocupou boa parte da comunidade internacional. O que chamava atenção, de antemão, era o fato de Trump jogar no lixo anos de negociações delicadas, sem ao menos propor uma alternativa. Se dois Estados não é a única solução, qual seriam as outras?
Até a noite daquela quarta-feira, haveria mais uma ou duas "notícias" bombásticas ecoadas pela Casa Branca e algumas informações criadas pelo governo para se manter nos holofotes.
Além das gafes como a do fim de semana – quando Trump referiu-se a um atentado na Suécia que não ocorreu, mas que o colocou em primeiro lugar nos trending topics do Google – e de sua obsessão pelo decreto que proíbe cidadãos de sete países de maioria muçulmanas de entrar nos EUA, uma das marcas desse primeiro mês na Casa Branca é a capacidade do novo presidente de mudar a agenda jornalística várias vezes em 24 horas. O dia começa com uma notícia explosiva sobre o governo, a manhã é encerrada com um decreto controverso, vaza um escândalo no meio da tarde, e, quando a noite chega, há uma (ou várias) frase(s) polêmica(s) pelo Twitter pessoal de Trump (@realDonaldTrump). Expressões normalmente em letras garrafais, nem sempre coerentes com a conta principal da Casa Branca (@Potus). Antes de irmos dormir, novo push: um bastidor de seu governo, o tuíte de uma assessora, a demissão de algum funcionário, uma crise interna. Para quem gosta e vive de notícias, a era Trump – e foram só 30 dias – é mais do que interessante.
Para o bem e para o mal.