Michael Flynn é o nome a ser entregue aos leões pelo governo Donald Trump para aplacar a bola de neve que se agiganta sobre a Casa Branca nesse quase fim de inverno americano. Conselheiro de Segurança Nacional do presidente até terça-feira, o general obrigado a renunciar é uma espécie de bode expiatório do primeiro grande escândalo dos menos de 30 dias da nova administração. Digo primeiro grande porque já houve muitas outras trapalhadas de menor potencial incendiário no governo Trump nessas primeiras semanas (veja outros aqui).
O presidente sabia que seu funcionário de alto escalão tivera conversas com o governo russo antes mesmo da virada de governo. Sendo assim, a demora em responder ao caso – Trump é sempre tão verborrágico e veloz em criticar adversários políticos e imprensa pelo Twitter -, indica que seu círculo íntimo de poder não sabia o que fazer com Flynn. Optou-se por entregá-lo para o sacrifício, antes que a coisa aumentasse.
Talvez tenha sido tarde demais. A "coisa" aumentou. Na sequência da primeira investigação do jornal The Washington Post, que trouxe à tona a denúncia sobre as relações entre Flynn e o embaixador russo Sergey Kislyak, o The New York Times revelou nesta quarta-feira que a campanha de Trump conversou repetidamente com autoridades de inteligência russas no ano da eleição. O escândalo pode ser apenas o primeiro fio do novelo. Puxá-lo, algo que a imprensa americana começa a fazer, pode implodir o governo.
A partir de agora, fica mais fácil investigar a ação de hackers para roubar e-mails da candidata democrata Hillary Clinton, descobrir a real influência russa na eleição de novembro, entender a ação de Vladimir Putin de não retaliar os Estados Unidos quando Barack Obama expulsou diplomatas e os rasgados elogios de Trump ao colega do Kremlin.
Ao final, poderemos descobrir que Flynn terá sido apenas o primeiro peão a tomar no tabuleiro. Um peão demasiado próximo de Trump.