Quando o Marine One decolar dos fundos do Capitólio, na próxima sexta-feira, levando Barack, Michelle, Sasha e Malia para fora de Washington, estará encerrada a era Obama nos EUA. Há oito anos, vi a mesma cena de perto, com Bush e Laura embarcando no helicóptero presidencial e dando adeus. Fazia muito frio. A sensação térmica era de 20ºC negativos, e usei pela primeira vez aquecedores de mãos – um estranho sachê com carvão ativado que a gente sacode e coloca dentro das luvas. Coisa de americanos. Para mim, uma forma de aguentar de pé, sem congelar os dedos, as 10 horas dos rituais da passagem de bastão entre Bush e Obama.
Não apenas o frio deve ser menos intenso na sexta-feira que vem – previsão de máxima de 5ºC. A cerimônia carecerá de contornos históricos. Em 2009, os EUA alçavam ao poder o primeiro negro, encerravam tenebrosos anos de guerras e havia uma comoção mundial. Dois dias antes de Obama fazer o juramento, houve uma megafesta, de graça, no National Mall: Beyoncé, U2, Bruce Springsteen. Éramos meio milhão de pessoas. Na posse, quase 2 milhões.Oito anos depois, Trump teve dificuldades para encontrar um músico para cantar o hino nacional. Algumas meninas da companhia Rockettes, de Nova York, também se negaram a participar, alegando discordâncias políticas. No sábado, milhares de mulheres prometem marchar contra o machismo de Trump.
Em 2009, quando o Marine One decolou levando Bush embora, muitos acenaram dando tchau. Ficou a sensação de que “já ia tarde”. Qual será a sensação na sexta-feira quando o helicóptero levar Obama embora?