Estratégica, milenar e simbólica. Assim é Mossul, segunda maior cidade do Iraque, com 3 milhões de habitantes, que virou palco desde o domingo passado da última grande batalha da guerra contra o autodenominado Estado Islâmico (EI).
Estratégica, por vários motivos: Mossul está localizada próximo às fronteiras iraquianas com a Turquia, é o front mais avançado do EI no Norte e seus combatentes poderiam ameaçar a qualquer momento esse país, espécie de limite informal entre o Oriente Médio e a Europa; Mossul é também rica em poços de petróleo, uma das principais fontes de renda dos terroristas para compra de armamentos; Ainda, Mossul é a última grande cidade do Iraque em poder dos extremistas – depois de Ramadi, que caiu em dezembro de 2015 e onde ZH esteve em maio de 2016, e Fallujah, que tombou em junho deste ano.
Milenar, Mossul tem 3 mil anos. De maioria sunita, é a antiga Nínive dos tempos bíblicos.
Mossul é também simbólica porque foi ali que o exército iraquiano sofreu uma de suas mais vergonhosas derrotas militares recentes. O EI entrou passeando por Mossul, em junho de 2014, tirando das mãos dos iraquianos veículos militares novos doados pelos EUA e apoderando-se de suas armas. Pior, colocando para correr os soldados iraquianos. Nos últimos meses, quem enfrentou os extremistas na rota de Mossul foi em grande parte os peshmergas, homens e mulheres do exército do Curdistão iraquiano. O exército oficial do Iraque só chegou recentemente, após abrir um flanco a partir de Fallujah e Ramadi.
Mossul, entretanto, é mais simbólica ainda porque foi ali que Abu Bakr al-Baghdadi anunciou a fundação de um suposto califado.
- Corram, ó muçulmanos, para o seu Estado. Sim, é o seu estado. Corram, porque a Síria não é para os sírios, e o Iraque não é para os iraquianos – disse Al-Baghdadi, em 28 de junho de 2014, primeiro dia do Ramadã, do alto da Grande Mesquia de al-Nuri.
Seu sonho: unir Aleppo, na Síria, a Mossul, no Iraque. Nascia oficialmente o Estado Islâmico, um território fictício que desdenhava das fronteiras dos Estados Nacionais, das leis, da tolerância, da humanidade, e jogava suas populações de volta à Idade Média.
Por fim e talvez mais importante, a retomada de Mossul é simbólica e estratégica porque empurra os combatentes do EI para fora do Iraque, restando apenas remanescentes nos grotões do deserto.
Com certeza, não será fácil: a derrota dos terroristas no país pode ter três conseqüências imediatas – o recrudescimento ainda maior do conflito na vizinha Síria; uma nova onda de refugiados, que deixarão a cidade em meio à batalha final; e um provável novo atentado na Europa, como vingança.