Na coluna anterior vimos que o pai fundador do grupo terrorista Estado Islâmico, Abu Musab al-Zarqawi, conheceu o radicalismo em uma mesquita de Amã, Jordânia, seu país natal. No final dos anos 1980, o Afeganistão havia se tornado um imã mundial para muçulmanos radicais interessados em contribuir para expulsar os soviéticos de lá. Era o auge da Guerra Fria e, se EUA e URSS não se enfrentavam diretamente no campo nuclear, faziam de suas zonas de influência, na Ásia Central, Sudeste Asiático, América Latina. Foram no Afeganistão, no Vietnã, em Cuba, e nas ditaduras do Cone Sul que a guerra foi quente. Abu Musab AL-Zarqawi, o homem que décadas mais tarde fundaria o Estado Islâmico que apavora o mundo – com inspirações no Brasil -, era um dos soldados da causa, que migraria para lá em dezembro de 1989.
O saudita Osama bin Laden também era um terrorista em formação. Bilionário, filho de uma família industrial saudita, ele fez sua base em Hayatabad, no Paquistão. O mestre Bin Laden à época era um palestino chamado Abdullah Azzam, o homem que fez um manifesto galvanizando na luta do Afeganistão contra a URSS a guerra santa que todo jihadista deveria fazer: em 1984, Azzam publicou um livro no qual dizia que os muçulmanos deveriam por obrigação, individual e comunitária, expular exércitos conquistadores ou de ocupação de sua sterras sagradas. Ele e Bin Laden fundaram a Maktab AL-Khadamat, ou agencia de serviços, que servia para cooptar muçulmanos para a luta afegã. Azzam era o intelectual. Bin Laden o executor. O homem do dinheiro.
Em novembro de 1989, Azzam foi morto em um atentado nunca explicado. Foi logo depois que Al-Zarqawi, o futuro fundador do EI, chegaria à região. Pegaria o fim da Guerra do Afeganistão – o exército soviético fora posto para correr -, ele não lutaria no conflito, mas faria de sua experiência um estágio no terrorismo. Participaria de uma série de campos de treinamento terroristas na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão – em um deles ajudaria a instrumentalizar o idealizador do 11 de Setembro, Khalid Sheikh Mohammed.
Em 1992, Al-Zarqawi voltou à Jordânia e foi logo monitorado pelos serviços de inteligência. A Jordânia havia provocado a ira de seus filhos por estabelecer dialogo de paz com Israel. Os radicais preparavam uma jihad interna. Al-Zarqawi agora atuaria em casa – conheceria um compatriota, Abu Muhammad AL-Maqdisi, um radical que seria seu professor. E seriam preso por tráfico de armas. Como os presídios no Brasil são a pós-graduação para o crime, na Jordânia era como uma especialização no terrorismo.
Veja como Al-Zarqawi encontrou Bin Laden na próxima coluna.