Menos de 36 horas depois do terremoto que devastou o Haiti, em 2010, matando mais de 300 mil pessoas, os haitianos que paravam o cinegrafista da RBS TV Fernando Rech e a mim nas regiões mais miseráveis de Porto Príncipe, como BelAir e Cité Soleil, reclamavam de que nenhuma migalha da colossal ajuda internacional deslocada para a ilha do Caribe chegara a suas mãos. Medicamentos, comida, água, roupas, barracas de campanha – tudo o que, no jargão diplomático, é conhecido como ajuda humanitária – subiam do Aeroporto Toussaint Louverture para os cerros da capital direto para os bairros mais abastados, como Pétion-Ville. Lá, onde é comum as caminhonetes de políticos, empresários e diplomatas, onde o cinza e o cheiro de podre da capital não ocupam o ar – e até se pode esquecer por alguns minutos de que estamos no Haiti –, a reconstrução já havia começado. Embaixo, perto do mar, a imensa massa ainda enterrava seus mortos em valas comuns ou cavoucava escombros com as unhas para achar algum parente desaparecido. Em resumo: quem tinha dinheiro ou influência, recebia ajuda da ONU, dos EUA e da União Europeia. Quem não tinha, até hoje espera um galão de água.
América Latina
Haiti, corrupção e pobreza eternas
País ficou sete dias sem presidente depois que segundo turno da eleição presidencial foi adiado por crise institucional e denúncias de fraude
Rodrigo Lopes
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