Ao final de uma hora de voo sobre as áreas alagadas pelo Guaíba, o helicóptero toma o rumo norte, em direção à divisa entre Porto Alegre e Cachoeirinha. À nossa direita, está a Arena do Grêmio. À esquerda, o Rio Gravataí. Considero-me um bom conhecedor da geografia da Região Metropolitana. Talvez, por isso, o cenário que se descortina ali à frente me surpreenda.
- É como se fosse um outro Guaíba - diz o comandante do voo.
Faço outra leitura.
- Parece uma grande bacia - comento com o repórter fotográfico Bruno Alencastro.
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Onde havia propriedades rurais, quintais de residências, pátio de transportadoras, ruas e avenidas, agora há um imenso acumulado de água. Tento, mentalmente, calcular a área inundada, mas meus olhos não alcançam o limite da cheia. É como se um grande lago tivesse brotado na saída da Capital. A cortar esse lago, a freeway parece uma extensa ponte, um naco vertical de terra cercado por água de um lado e de outro.
Voltamos para o Sul. Ironicamente, ao olhar para o Oeste, um raio de sol pinta de rosa o final da tarde. Um contraste com o que nossos olhos veem ali embaixo: nas ilhas das Flores, da Pintada e dos Marinheiros, quarteirões inteiros abandonados. Não se consegue distinguir cercas, paradas de ônibus, terrenos. Onde, suponho, seria um campo de futebol, avisto apenas as traves das goleiras. Tudo cercado por muito lixo boiando. Os poucos moradores que resistiram voltam suas cabeças para o alto. Alguns acenam. Quem se arrisca a sair caminha com água pela cintura. Do lado de cá da Capital, ao costearmos a Mauá, o Guaíba ainda não avançou sobre o cais. Mas parece ameaçador. Um palmo separa a água da calçada. A bacia ameaça transbordar.