A economia brasileira, nos últimos três anos, encolheu cerca de 7% e deixou de crescer outro tanto, segundo a média das últimas décadas. A soma dos dois estragos representa grande perda no PIB, nos negócios, no bolso das pessoas e nas receitas públicas. Se o país se houvesse mantido naquele "tranquinho" dos 2,5% a.a. (sempre inferior à média mundial, é bom que se diga) tudo estaria pelo menos 15% melhor.
Há 12 milhões de cidadãos querendo trabalhar, sendo que a metade foi dispensada nos últimos dois anos. A indústria recuou 6,6% em 12 meses e os investimentos estrangeiros caíram 23% sobre o exercício anterior. No entanto, a natureza é a mesma de antes, dinheiro existe, a capacidade produtiva instalada permanece, ou seja, os fatores de produção estão aí, em condições de retornar pelo menos ao estágio em que andávamos quando se tornaram nítidas para todos as consequências desastrosas dos governos petistas. É bom ter isto em conta: crises assim não se instalam sem serem prenunciadas, convidadas, quase poderia dizer provisionadas. Não são um big bang, uma explosão no vácuo. São precedidas de sinais que disparam sirenes nas mesas dos bons economistas, dos bons gestores. Quem tem ouvidos para ouvir, ouve. Quem não tem nega tudo, faz escarcéu contra as advertências, e constrange o Santander a despedir a analista que alertou seus clientes sobre o que estava por vir. Na voz de Lula, a moça "não entendia p* nenhuma de Brasil".
Desse saber raso nos livramos. A gestão fiscal ganhou responsabilidade e zelo, acabaram as bravatas, sumiu a história de meta e dobro da meta, fosse qual fosse a meta, e há boa concordância dos agentes em relação ao acerto das medidas adotadas pela equipe econômica do governo Temer. A inflação, o dólar e a taxa de juros caem e se tem a impressão de que o país passaria a recuperar o terreno perdido. Como se explica, então, que o ano de 2017 inicie com perspectivas desenhadas à sombra de um crescimento ainda próximo de zero? Qual a essência do problema brasileiro neste momento?
O que mantém acessas, no amarelo piscante, as lâmpadas de advertência que antes sinalizavam vermelho são as incertezas de um país no qual tudo circula em torno do Estado, do governo central, dos humores e pavores do Congresso Nacional, dos divergentes alvedrios dos magistrados. É a política, são as instituições, enfim. É aí que mora o perigo, é aí que a confiança no próprio país recebe golpes diários dos feitos e malfeitos, das falações e delações, das listas e pistas, dos malditos gatos de variados pelos.
Instituições políticas são concebidas e supostamente devem operar para que as ações individuais e sociais se desenvolvam num quadro de normalidade e estabilidade. A confiança desaparece quando se desenha um cenário como esse em que vivemos, aos solavancos, no anda e para de reformas pendentes sobre o abismo das probabilidades. Façam seu jogo, senhores! A reforma da previdência vai ou não vai? E a reforma trabalhista? Vamos continuar orientados por centrais sindicais que não olham para companheiros desempregados nem para as mudanças no mundo do trabalho?
Enquanto vivermos na expectativa de más notícias na área política, não teremos a estabilidade que gera confiança e leva as pessoas a consumir, a investir, a produzir. O legado político-institucional é um país de alto custo e elevado risco. Os custos se reduzem com algumas reformas. Os riscos exigem justiça boa e rápida, que afaste os criminosos dos postos de poder, e um modelo institucional em que governos sejam substituídos sem trauma nem celeuma, como na maior parte dos países civilizados com democracias estáveis.