Já vai muito longe o ano de 1950. Foi o ano do meu nascimento no então chamado Hospital Alemão, hoje o imponente Moinhos de Vento, um dos melhores hospitais deste país. Morávamos na Rua São Joaquim, no bairro da Glória. Meu pai era contador. Minha mãe lavava roupa para fora para completar o modesto orçamento da casa. Depois, fez curso de auxiliar de enfermagem e cuidou de muita gente com amor.
Aprendi a jogar futebol no meio da rua, que ainda não tinha calçamento. Estudei no Ginásio Assunção e depois no Colégio Militar. Mas o que eu mais gostava era narrar futebol, no banheiro ou mesmo nos jogos que fazíamos com os guris da mesma rua. Eu me narrava (risos). Nunca sonhei com nenhuma profissão. Eu queria ser narrador de futebol. Ouvia os mestres daquela época. Mendes Ribeiro, o maior de todos. Me encantou na Copa de 1958 quando disse " que Deus não joga, mas fiscaliza". Fui buscá-lo no aeroporto junto com amigos e acompanhei parte do desfile em carro aberto que ele fez percorrendo as ruas da cidade. O povo lhe fez as homenagens merecidas.
Depois veio Pedro Pereira. Com ele e o Ribeiro, me identifiquei mais. Assistia a jogos do Cruzeiro na Montanha entrando pelo Cemitério Israelita e pulando o muro. Ao final do jogo, ia até as cabines de rádio acompanhar o Amir Domingues, o Ênio Melo e outros. Athaides Ferreira era o narrador daquelas tardes. Pois este guri chegou à Rádio Gaúcha há 50 anos. Subi degraus importantes com muito trabalho e dedicação.
Profissão
Fui fazer o curso de Jornalismo na Famecos. Larguei a faculdade de matemática porque o jornalismo, a narração de futebol, batia mais forte no meu coração. Procurei ser múltiplo para ganhar mais espaços. Na Copa da Alemanha, em 1974, não fui. Eu tinha apenas um ano de rádio. Mas, em 1978, na Copa da Argentina, eu estava. E aí começou um longo caminho que me levou a 12 Mundiais.
Lotei sete passaportes de carimbos em viagens internacionais. Andei pelos cinco continentes. Pois hoje, este guri nascido no bairro da Glória, com muita humildade e agradecimentos, está recebendo, por proposição do deputado Marcus Vinícius (PP), uma homenagem no plenário da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O Grande Expediente, no sagrado plenário de discussões e formulação de leis que regem o nosso Estado, estará me recebendo. Estou lisonjeado, agradecido, vaidoso, quase não acreditando que aquele guri que jogava futebol de pés descalços na Rua São Joaquim está vivendo este momento singular.
Homenagens
Não me lembro o ano, mas fui agraciado com a medalha do Mérito Farroupilha em proposição do deputado Pedro Westphalen (PP). Esta é a maior honraria que temos no Estado. Agora recebo a homenagem no Grande Expediente. Em dezembro, em data a ser definida, recebo o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, por proposição do vereador Pablo Melo (MDB). Lá no Catar, recebi uma homenagem da Fifa, com uma réplica da Copa do Mundo, ao lado do Galvão Bueno.
Eu completava, ali, trabalho em 12 mundiais. Galvão e eu, os que mais Copas trabalhamos. O velhinho aqui, antigo guri da Glória, vai desmaiar de tanta emoção. Peço perdão aos meus leitores por escrever esta coluna falando somente em mim. Jornalista não é notícia. Mas confesso que não estou me aguentando de orgulho.