Paulo Germano
Minha avó, quando ia dormir lá em casa, pedia sempre para rezarmos antes de deitar. A gente fechava os olhos, eu e minha irmã ajoelhados no colchão, as mãozinhas unidas em frente ao queixo, "Pai nosso que estais no céu", depois "Ave, Maria, cheia de graça" e pronto, íamos dormir. Quer dizer: eu não dormia. Passava a noite em claro, temendo que um dia Deus me punisse por ter rezado sem fé. Será que Deus existe?, eu me perguntava. Porque, se não existisse, aquilo era perda de tempo. Mas, se existisse, duvidar dele poderia ser perigoso. Do alto dos seus quatro anos de idade, minha irmã tentava me deixar calmo:
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