Texto publicado em Zero Hora no espaço de David Coimbra, que está em licença médica.
Escrevi esses tempos que a verdade é a verdade e acabou. Quer dizer: não existe isso de "cada um tem a sua verdade". Cada um pode ter sua opinião sobre uma verdade, claro, mas a verdade em si, por definição, é indiscutível – porque ela é justamente o que não pode ser posto em dúvida. Ela é o retrato inquestionável dos fatos, ela é inegociável, ela é absoluta. Ela é a verdade.
Por exemplo: Paulo Germano é jornalista. Isso é uma verdade, não há como discutir, eu realmente me formei em jornalismo e exerço a profissão. Agora, se sou bom ou mau jornalista, aí é uma avaliação de cada um.
Dito isso, bem, existem casos em que a verdade ainda não apareceu. Nem a ciência, nem a polícia, nem o jornalismo, nem qualquer estudo, auditoria ou investigação foram capazes até hoje de revelar a verdade sobre determinados temas. Deus é um bom exemplo. Qual é a verdade sobre Ele? Um dia, quando entrevistei para Zero Hora o padre Fábio de Melo, perguntei-lhe exatamente isso:
– Como o senhor tem certeza de que Deus existe?
E ele respondeu que, "se tivesse certeza, não precisaria ter fé".
– A experiência da fé nos dispensa das certezas – sorriu o padre. – Fé é confiança, não é certeza. É o que você pode experimentar, por exemplo, como filho. Você tem certeza do amor da sua mãe?
– Claro que tenho – respondi depressa.
– E você tem provas científicas desse amor por você?
– Não...
– Mas você confia. Você acredita. E basta.
Achei perfeito. Por isso as pessoas dizem "eu acredito em Deus". Porque acreditam que esta seja a verdade. Se houvesse plena convicção sobre a verdade, não faria sentido "acreditar" nela. Uma pessoa só acredita naquilo que julga provável, aceitável, possível, mas a verdade NÃO é isso. A verdade é irrefutável. A verdade é.
Talvez por isso, por considerar falaciosa a conversa de "cada um tem a sua verdade", uma das grandes inquietudes da minha vida se refira justamente a essa pergunta: Deus existe?
– Não há nenhuma evidência concreta disso – ouço dos ateus e até concordo, mas logo vem o adendo: – Quem acredita nele é que precisa provar.
Talvez o mais importante seja o que o padre disse ao final da entrevista: "Conheço ateus que agem como se estivessem com Deus".
Mas desde quando quem sente algo precisa provar qualquer coisa? Se uma pessoa de fato sente a existência de Deus – como sinto o amor da minha mãe –, quem sou eu para contestá-la? Ora, vai ver Ele existe. Só que alguns fiéis desaforados, tentando impor sua fé como verdade, preferem desdenhar:
– Você aceitará Deus quando realmente precisar dele.
Olha, já precisei dele uma meia dúzia de vezes e não creio que um momento de extrema dor ou desespero seja o mais indicado para avaliações sensatas. Nem o mais indicado para encontrar a verdade.
E o fato é que essa verdade a humanidade não vai descobrir. O máximo a que podemos chegar é "acreditar" na existência de Deus – ou não acreditar também. Paciência. Talvez o que importe, mesmo, seja o que o padre Fábio de Melo me disse ao final daquela entrevista:
– Conheço muitos ateus que agem como se tivessem Deus no coração. No fim, é isso o que Ele quer.