Vocês sabem: a Usina do Gasômetro está em obras e, segundo a prefeitura, deveria ficar pronta no início do ano que vem – isso, por si só, já configuraria uma das maiores novelas da história recente de Porto Alegre. Porque, afinal, estamos falando do principal cartão-postal da cidade, um símbolo da Capital interditado desde 2017 cuja conclusão da reforma já foi adiada sabe-se lá quantas vezes.
Só que a coisa é pior. A coluna apurou – e o prefeito Sebastião Melo confirmou – que a obra vai precisar de mais R$ 8 milhões para ser concluída. Sabem em quanto a obra estava orçada? Em menos de R$ 12 milhões. Ou seja, de uma hora para outra, na reta final da reforma, descobre-se que, para a Usina do Gasômetro ser reaberta, será necessária uma verba adicional de quase 70% do orçamento.
É um deboche. Não é possível que só tenham se dado conta disso agora – e não é possível que alguém, de alguma forma, não esteja ganhando com isso. Segundo Melo, foram identificadas falhas no projeto da empresa contratada no governo anterior.
– Mas não é culpa do governo anterior. A empresa vence a licitação e, depois que a obra começa, puxa o tapete para cá, puxa para lá, estica daqui e, quando vê, estão faltando R$ 8 milhões. Já determinei a abertura de uma sindicância para apurar isso – afirma o prefeito, defendendo que a empresa, além de notificada, seja impedida de firmar novos contratos com o município.
Melo diz que, para concluir a reforma, a tendência é a prefeitura pedir um novo empréstimo a um banco internacional. Mas, obviamente, não dá mais para saber se o Gasômetro ficará pronto para o aniversário de 250 anos da Capital, em março de 2022, como era o esperado.
Neste ano, aliás, ficamos sabendo que a usina nem sequer pertence a Porto Alegre. Embora seja administrada pelo município desde 1982, ela ainda é propriedade da Eletrobras. E, como a Eletrobras deve ser privatizada pelo governo federal, o prefeito tem se reunido com autoridades em Brasília para pedir que, antes de vender a estatal, transfiram a posse do Gasômetro para a gente.
Melo está fazendo sua parte, sem dúvida – o assustador é que nenhum outro prefeito tenha feito esse movimento nos últimos 40 anos. Chegamos ao ponto de gastar R$ 12 milhões (que vão virar R$ 20 milhões, porque ainda faltam oito) na reforma de um prédio que nem é nosso.