Morador há 30 anos da Rua Comendador Caminha – aquela que contorna o Parcão –, o médico Fernando Appel da Silva, 68, estranhou quando viu as novas plaquinhas identificando a via.
Você já deve ter reparado: o novo modelo das placas agora traz, em letras miúdas, um breve histórico do nome de cada rua. Na Comendador Caminha, Fernando leu o seguinte: "Pedro de Andrade Caminha, poeta português".
– Por que um poeta que nasceu em 1520, em Portugal, daria nome a essa rua? – pergunta o médico.
Ele afirma que o homenageado, na verdade, é Antônio Pedro Caminha (1859-1914), coronel do Exército que foi deputado estadual e fundou a antiga Associação Protetora do Turfe, que daria origem ao Jockey Club. Faz todo o sentido: o Parcão, naqueles tempos, ainda era o Prado Independência.
O historiador Sérgio da Costa Franco, no seu Guia Histórico de Porto Alegre, confirma que a rua homenageia o Caminha gaúcho. Mas alerta para um possível equívoco na denominação atual: a via, até onde se tem notícia, deveria se chamar Coronel Caminha, e não Comendador.
O próprio Fernando, morador dali, diz que os documentos do apartamento onde mora, na década de 1960, mencionavam a rua como Coronel Caminha. Vinte anos depois, outros documentos mostram as duas formas, Coronel e Comendador, mas hoje só se usa a segunda opção. Sérgio da Costa Franco se diverte:
– Sempre brinquei com o nome da placa, porque transformaram o coronel em comendador, mas poeta? Daqui a pouco vira Rua Comendador Coronel Poeta Caminha.
Procurada pela coluna, a Imobi, responsável pelas novas plaquinhas, reconheceu que deve, sim, ter cometido um engano ao homenagear o poeta português. Daniel Costa, um dos sócios da empresa, lembra que apenas 3,5 mil vias da cidade têm um breve histórico cedido pela prefeitura – o restante, que passa de 10 mil, precisa de uma pesquisa da própria Imobi.
– Contratamos um historiador para se dedicar exclusivamente a isso. Se tiver algo erado, será alterado. O importante é preservar a história, e é muito legal contar com o apoio e a atenção da população – diz Daniel.
Talvez a rua nunca volte a se chamar Coronel Caminha – ela já se consagrou como Comendador. Mas pelo menos as letras miúdas deverão citar o coronel, e não mais o poeta.
Com Rossana Ruschel