Abandonada durante décadas pelo poder público, a sombria escadaria que liga o Centro à Cidade Baixa virou orgulho de Porto Alegre em 2011, quando uma artista plástica transformou os degraus em obra de arte.
Com mais de 3 mil azulejos decorados, a renovação da 24 de Maio fazia parte de um projeto maior: empresas da Capital patrocinaram intervenções artísticas em uma série de pontos da cidade. Mas a ideia era que, três meses depois, tudo fosse desmanchado.
– A comunidade não aceitou. E eu também queria manter a obra, porque fiquei feliz com a repercussão. O lugar ficou alegre, ganhou um efeito incrível. As pessoas vinham me agradecer – recorda a artista Clarissa Motta Nunes, hoje aos 48 anos.
Ela e a associação de moradores, então, chegaram a um acordo com a prefeitura: Clarissa deveria fornecer novos azulejos sempre que os antigos caíssem, e a associação ficaria responsável por colocá-los. É assim até hoje. Mas, ao longo dos anos – enquanto a escadaria recebia todo tipo de visitante, além de filmes, books fotográficos, propagandas e videoclipes –, o poder público saiu de cena outra vez.
A escada tem degraus quebrados, soleiras destruídas, corrimãos sem pintura, calçadas esburacadas. Esse tipo de manutenção sempre será incumbência da prefeitura – que, sejamos francos, nunca valorizou o potencial turístico da 24 de Maio.
– Os últimos reparos que fizeram foi em uma reforma que começou em 1997 e terminou 10 anos depois – diz o vice-presidente da Associação dos Amigos da 24 de Maio e Adjacências, Pércio de Moraes Branco.
Segundo Clarissa – a artista que tira do próprio bolso o dinheiro para repor cada azulejo quebrado –, a escadaria "é algo grande que ficou na mão de pequenos":
– É um lugar que todo mundo adora, mas que tem um custo. Já fiz vaquinhas, tentei parcerias, mas parece um filho que botei no mundo e terei de cuidar para sempre. Meu sonho é que alguém adote e faça uma manutenção adequada.
Procurado pela coluna, o secretário municipal da Cultura, Gunter Axt, afirmou em nota que o atual governo pretende valorizar a escadaria, "assim como toda a cidade". E a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos garantiu reparos no local para março ou abril.
É pouco para um governo que promete revitalizar o Centro Histórico. Vamos aguardar.
Com Rossana Ruschel