Manuela D'Ávila (PCdoB) perdeu a eleição por uma série de razões – a Rosane de Oliveira já analisou todas. Mas uma delas ainda merece um estudo mais profundo, talvez uma tese de doutorado, sei lá: o medo do comunismo. Não é um medo que só os antipetistas manifestam. É um medo que a própria esquerda parece ter.
Digo isso porque os próprios comunistas, os próprios membros do PCdoB, claramente fogem do assunto. Qual é o problema de enfrentar esse tema? Que medo é esse? Por que é tão difícil explicar como seria esse comunismo do século 21? Se não explicam, claro, só pode funcionar a retórica do outro lado: a de que o comunismo é um horror.
Até porque, vamos combinar, não é nenhum delírio dizer isso. Da União Soviética à Coreia do Norte, as referências de comunismo que habitam o imaginário coletivo estão entre as piores da história da humanidade. Será que, no fundo, Manuela concorda com elas? Sinceramente, não acredito.
Luiz Delvair, o candidato do PCO, esse sim, se mostrava um comunista mais, digamos, ortodoxo. E o PCO nem tem comunismo no nome: é o Partido da Causa Operária. Aliás, se fôssemos nos guiar pelo nome dos partidos, teríamos problemas frequentes para identificar suas ideologias.
O Partido Progressista (PP), por exemplo, nunca foi progressista, pelo contrário: o progressismo é uma corrente de esquerda que se opõe ao pensamento conservador. E o PP é conservador. Já o PPS, Partido Popular Socialista – que hoje se chama Cidadania –, a julgar pelo nome, deveria estar na extrema esquerda do espectro político. O Partido Social Liberal, por sua vez, jamais flertaria com a extrema direita.
Talvez o PCdoB devesse trocar de nome. Ou, no mínimo, arrancar a foice e o martelo daquele logotipo anacrônico.
Só que não é assim. Definir a natureza de uma agremiação política a partir do seu título infantiliza o debate e transforma tudo em uma discussão rasteira. Manuela poderia ser criticada por uma infinidade de motivos, mas especificamente por integrar o Partido Comunista do Brasil? Acho uma bobagem. Mas uma bobagem que colou e que a esquerda, em nome da própria sobrevivência, deveria considerar.
Aliás, talvez o PCdoB devesse seguir o exemplo do PPS: trocar de nome. Ou, no mínimo, arrancar a foice e o martelo do logotipo – é tão anacrônica, que beira o ridículo uma insígnia dessas em 2020. Em resumo, quem precisa vencer o medo do comunismo é a própria esquerda: está na hora de enfrentar esse bicho-papão.