Aliados de Marchezan interpretam assim: se Manuela D'Ávila (PC do B) vencer a eleição no domingo (29), o prefeito será cassado na terça-feira (1º) – data marcada para a votação do impeachment na Câmara de Vereadores. Mas, caso Sebastião Melo (MDB) seja eleito, aí Marchezan pode escapar. Por quê?
Bem, em primeiro lugar, a única certeza é de que PT e PSOL votarão a favor do impeachment em qualquer hipótese. O futuro do prefeito, portanto, depende dos outros partidos, que eram independentes ou faziam parte da base aliada no governo Marchezan.
Boa parte desses partidos, caso Melo seja o vencedor, participará da futura gestão. E isso levanta algumas dúvidas. A primeira: como seria a transição liderada pelo atual vice-prefeito, Gustavo Paim? Ele conhece pouco a situação da prefeitura, já que rompeu relações com Marchezan há mais de ano. Não seria melhor manter uma boa relação com o prefeito nesse último mês de mandato?
Segunda questão: o PSDB de Marchezan elegeu quatro vereadores – terá uma das maiores bancadas da Câmara a partir do ano que vem. Seria, portanto, um aliado importante para Sebastião Melo. Inaugurar essa relação de maneira tão traumática, estigmatizando o partido com um impeachment, não poderia abalar uma parceria conveniente?
Por fim, mas não menos importante, cassar o atual prefeito abriria um precedente perigoso para Melo. Porque qualquer irregularidade, no futuro governo, teria um critério de comparação: "Marchezan foi deposto por muito menos". Como rebater um argumento desses?
Por outro lado, se Manuela vencer a eleição, aí esse "precedente perigoso" passa a ser positivo. Afinal, boa parte dos partidos que estariam com Melo, naturalmente, farão oposição à prefeita. E todas as preocupações listadas neste texto perderão o sentido.
Quer dizer: as chances de Marchezan ser afastado do cargo aumentam se Manuela ganhar. É bom lembrar, no entanto, que nem todos os parlamentares se guiam por esse fisiologismo. Uma parcela dos vereadores realmente entende que, ao perder a eleição, Marchezan já foi punido pelas urnas. Ou seja, a estratégia de fazer o prefeito sangrar com o processo de impeachment funcionou – a briga, agora, teria perdido o propósito.
Mas também há vereadores convictos de que o prefeito deve ser deposto. Entre esses, a maioria é movida pelo profundo rancor que sobrou da péssima relação entre Marchezan e a Câmara. Querem puni-lo por vingança. Seria o fim de mandato mais melancólico que a Capital já viu.